SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 1
09/11/2021 - Terça-feira
18h - 20h15 | Horário de Brasília
Sessão de comunicações 1
Pragmatismo, Crença e Verdade
Ian Salles Botti | UFSC, Brasil
Epistemologia da virtude como teoria da investigação
Esta comunicação abordará a questão da função teórica do conceito de virtude epistêmica na epistemologia a partir da perspectiva de Christopher Hookway, que é inspirada sobretudo no pragmatismo de Peirce. O tema principal é metaepistemológico, pois não se trata de uma resposta direta a algum problema epistemológico como usualmente concebido na epistemologia analítica, mas de uma proposta de reorientação da disciplina e da terminologia adotada, o que implica em novas maneiras de lidar com os problemas tradicionais e novos problemas com os quais se deve lidar. Na epistemologia da virtude responsabilista de Hookway o tradicional foco em teoria do conhecimento e da justificação é substituído pela teoria da investigação, na qual virtudes epistêmicas assumem um papel central na regulação de atividades epistêmicas, na superação da dicotomia internismo versus externismo e na resposta ao ceticismo. Na epistemologia contemporânea, a noção de virtude intelectual foi empregada inicialmente na tentativa de resolução de problemas tradicionais em torno do conhecimento e da justificação, como, por exemplo, o problema de Gettier e o trilema de Agripa. Muito se discute sobre se tais tentativas tiveram sucesso. Uma das críticas mais comuns é que seria inadequado entender os conceitos de conhecimento e justificação em termos de virtudes intelectuais, isto é, seja qual for a importância das virtudes na justificação de crenças e na aquisição de conhecimento, elas não são um componente da análise destes conceitos - não estão entre as condições necessárias e suficientes para que uma crença seja qualificada como justificada ou conhecimento. Tem-se como referência uma noção de virtude epistêmica que não se limite a faculdades cognitivas básicas e inclua padrões de raciocínio, habilidades e traços de caráter epistêmico. Considerando que, para ser chamada de Epistemologia da Virtude, é necessário dar primazia explanatória às virtudes, os críticos da epistemologia da virtude defendem que o papel das virtudes é meramente auxiliar e secundário, de modo a negar sua utilidade teórica na resolução dos problemas mencionados e, consequentemente, negar que elas possam ter um lugar de destaque na problemática epistemológica. A proposta de Hookway consiste em defender a centralidade das virtudes intelectuais na regulação de atividades epistêmicas, e rejeitar que os conceitos de conhecimento e justificação sejam necessariamente o ponto de partida da epistemologia. Ele concede que a relação entre virtudes intelectuais e crenças é apenas indireta, mas, contra a epistemologia analítica mainstream, nega que essa seja a única maneira por meio da qual as virtudes poderiam ter um papel central na epistemologia. Entendida de modo geral, a epistemologia diz respeito as nossas práticas de avaliação epistêmica, o que deixa em aberto (i) se crenças são o principal objeto de avaliação, e (ii) se justificação e conhecimento são os principais termos de avaliação epistêmica. Alternativamente a essa escolha de objeto primário de estudo e de vocabulário, é possível que (iii) atividades, tais como investigações e deliberações, sejam o principal objeto de avaliação, e que (iv) virtudes sejam necessárias para avaliá-las epistemicamente (como boas, eficientes, responsáveis, etc). Com isso, a epistemologia da virtude tal como concebida por Hookway dá prioridade à teoria da investigação em lugar das teorias do conhecimento e da justificação, possibilitando novas formas de interpretar debates como o internismo versus externismo, e de responder problemas como o ceticismo, além de motivar o interesse da epistemologia no estudo de virtudes e vícios particulares e de atividades epistêmicas diversas tanto a nível individual quanto social.
Marcos Antonio Alves | Unesp - Marília, Brasil
Informação, cognição, notícias falsificadas e suas relações com a ação a partir de Fred Dretske
Baseado em informações e em sua capacidade cognitiva, por meio de suas ações, o ser humano ergue e destrói coisas belas. Quais as relações entre informação e cognição e sua influência no direcionamento da ação, em especial daquela moralmente responsável, ou seja, livre e consciente? Como explicar, principalmente em tempos de Big Data, tantas ações baseadas em notícias falsificadas, em desinformação? Neste trabalho propomos uma investigação de questões como estas a partir das relações entre informação, cognição, em particular, conhecimento, e notícias falsificadas, adotando, como base conceitual, a abordagem de Fred Dretske. Para ele, conhecimento é crença verdadeira causalmente sustentada por informação, capaz de direcionar a ação. Por um lado, analisamos criticamente a noção de informação, a definição de conhecimento e sua influência na conduta tal como sugeridas pelo pensador citado. Por outro lado, almejamos uma abordagem explicativa da influência de notícias falsificadas na ação humana, sugerindo uma concepção destas notícias, avaliando suas relações com a informação e cognição. Buscamos ressaltar a importância da ação baseada no conhecimento, tentando evitar a influência de crenças infundadas, apoiadas em notícias falsificadas.
Rodrigo Azevedo dos Santos Gouvea | UFRJ, Brasil
Crenças como expectativas
Crenças são estados mentais que representam o modo como as coisas são. Na medida em que se adequam ao modo de ser das coisas, crenças são verdadeiras; de outra forma, são falsas. Além de se distinguirem de outros estados mentais por sua natureza representacional, crenças têm grande relevância prática. Figuram como elementos de determinação do curso de nossas ações. Crenças nos guiam por formas de ações que supostamente promoverão a satisfação de nossos desejos. Em geral, expectativas dizem respeito a experiências futuras, e se revelam, sobretudo, na surpresa que cada um de nós vivencia diante de experiências recalcitrantes. Expectativas não precisam representar o modo como as coisas são. Podem representar o modo como experimentamos as coisas, ou até mesmo não representar nada, como propõem alguns defensores recentes do enativismo (cf. Hutto & Myin 2017, p. 71). Parece ser um ponto pacífico, no entanto, que expectativas tenham relevância prática. Em interpretações acerca das concepções de crença oferecidas por C. S. Peirce (1986 [1877] & 1986 [1878]) e F. P. Ramsey (1990 [1926], 1990 [1927], & 1990 [1929]), C. Misak (2004 [1991]) & 2017) defende que crenças sejam constituídas por conjuntos de expectativas. Não está claro se Misak propõe que haja relações de identidade entre crenças e expectativas, ou se considera tais coisas como distintas, apesar da alegada relação constitutiva. Misak endossa explicitamente, entretanto, a posição de que crenças guiariam nossas ações por meio de “hábitos de expectativas”, que são confirmados ou frustrados por nossas experiências. O principal objetivo de minha comunicação é refletir, e tornar mais plausível, a afirmação de que crenças são expectativas. Para tanto, darei contornos precisos a uma tese específica que a afirmação possa exprimir, demarcando seus conceitos e elucidando o modo como se deva compreender a identidade proposta. Pretendo responder, ademais, a objeções possíveis à referida tese. Algumas objeções decorrem da dificuldade de conceber determinados tipos de crenças (como, p.ex., crenças conscientes, crenças sobre eventos passados e crenças gerais) como expectativas.
Francisco Newton Freitas | UFPI, Brasil
Uma síntese de importantes núcleos conceituais utilizados na elaboração da epistemologia pragmaticista face à doutrina clássica peirceana
O objetivo desta Comunicação é o de apresentar, em linhas gerais, núcleos conceituais importantes utilizados na elaboração da Epistemologia Pragmaticista (EP), no enquadramento da doutrina clássica peirceana, em síntese, baseada apenas nos ensaios “A fixação da crença” (1877) e “Como tornar as nossas ideias claras” (1878). Para tanto, foram redesenhados os pontos: (i) natureza da investigação científica e os métodos de fixação da crença; e, (ii) máxima pragmaticista e sua remodelação e indicações para clarear ideias, como contribuições à elaboração de algumas reflexões filosóficas. Metodologicamente, foi processada leitura e fichamento dos citados textos, identificados seus principais núcleos conceituais e elaborada uma síntese de suas características, na forma de investigação filosófica, em nível de Referencial Teórico, após exercício de enquadramento temático. Em Considerações Finais sobre a Filosofia Clássica Peirceana: (a) observou-se a importância e a atualidade de suas contribuições à formação de uma doutrina crítica, experimentada e autônoma, especialmente do ponto de vista da EP, no sentido da percorrer trama e organização lógica, visando entender a realidade do humano e do mundo, estimulando o indivíduo a “fixar crenças” (métodos) e a “clarificar ideias” (indicações) e a perceber sua própria “criatividade” como fruto de embates permanentes em busca da verdade pautada no equilíbrio lógico de uma mentalidade científica; (b) mostrou-se original e foi construída a partir da ideia de experiência, dúvida, hábito, lei, crença e clareza, dentre outros núcleos conceituais, que, por sua vez, provocam na mente a necessidade de ações à resolução, atuando sobre o processo de fixação das crenças e de clarificação de ideias, como antídotos à dúvida, e como regra de ação (crença, hábito e lei), e expande tal ideia no sentido de realçar a importância do método científico como encaminhamento mais eficaz para a fixação do conhecimento; (c) apresentou-se programa baseado no dever de construção do ideário para o exercício de aprender a pensar/ raciocinar de forma ampla e profunda; (d) distingue-se núcleos conceituais ao mesmo tempo que os relaciona em complementaridades na sua elaboração; (e) apresenta-se o ‘método científico’ como principal apurado à luz da EP; e, por último, (f) por sua profundidade, vê-se a influência peirceana no pensamento norte-americano, chegando ao operacionismo lógico e às correntes contemporâneas da Filosofia da Ciência, por exemplo.
Larissa Ferreira Gonzales; Edna Maria Magalhães Nascimento | UFPI, Brasil
Investigação sobre a teoria da verdade em Charles Sanders Peirce
A presente pesquisa intitula-se “Investigação sobre a teoria da verdade em Charles Sanders Peirce”. Trata-se de um trabalho em andamento vinculado ao Programa de Pós-graduação em Filosofia da UFPI. O objetivo principal da pesquisa consiste em analisar a filosofia pragmatista de Peirce para compreender a sua teoria da verdade e identificá-la enquanto eixo teórico principal que justifica a unidade dos escritos do pragmatista pioneiro. Busca-se com base neste objetivo caracterizar o tipo peculiar de filosofia praticada pelo filósofo que o levou a denominá-la de pragmaticismo. A pesquisa visa à explicitação da teoria da verdade perceana,sobretudo o anticartesiamo de Peirce e sua objeção à epistemologia moderna com seus dualismos reducionistas, tais como sujeito e objeto, razão e sensibilidade, teoria e prática, fatos e valores, etc., que tem dificultado a maneira de compreender os problemas humanos em sua complexidade. Outra categoria de análise é o falibilismo, pode dizer que é uma maneira de reconhecer uma característica inerente ao conhecimento, pois a busca da certeza indubitável e absoluta pode ser entendida como um desvio da razão, sendo algo impossível diante da experiência e da pluralidade. Portanto, os pragmatista como Peirce, não renunciam a verdade, mas aspiram descobri-la, forjá-la, submetendo as suas formulações à experiência e à discussão na comunidade científica. Nesse sentido a teoria da verdade pragmática perceana precisa ser compreendida através das noções de conhecimento, realidade e crenças. A partir desse estudo, adentraremos tanto à fenomenologia quanto à semiótica de Peirce com a finalidade de compreender respectivamente as noções de primeiridade, secundidade e terceiridade e o significado das proposições fundamentais para investigar a teoria da verdade.Tomaremos como referência, além dos ensaios The fixation of belief (1877) e How to make our ideas clear (1878) que são emblemáticos da tradição, as obras que foram organizadas no livro Collected Papers (1934). Serão acrescentados textos da tradição filosófica que ajudarão a explicitar a problemática da pesquisa, a cena intelectual do contexto abordado pelo pragmatista, bem como textos de comentadores e intérpretes que discutem a teoria das crenças, a fenomenolgia e a teoria da verdade em Peirce. A discussão da teoria da verdade na obra de Peirce tem sido revisitada por autores contemporâneos da área da epistemologia, ressaltanto o valor filosófico da obra do pragmatista clássico e sua atualidade no debate contemporâneo. Em virtude disso, entende-se que o método pragmatista permite mostrar como podemos chegar às conclusões verdadeiras na investigação e clarificar os conceitos como realidade ou probabilidade. Nesse sentido, Peirce defende que uma teoria afinada à experiência possibilitaria solucionar as confusões conceituais relacionadas aos significados e consequências práticas. Dessa maneira, implica na utilização exitosa do método das ciências às questões filosóficas, de modo que podemos afirmar que não há nada incognoscível que não seja possível estabelecer aplicando o método das ciências. Estes problemas são temas recorrentes da epistemologia contemporânea, cuja natureza das discussões incide-se sobre temas referentes aos critérios de justificação do conhecimento e formulações que possam enfrentar com autoridade as provocações do ceticismo, ao mesmo tempo, encontrar soluções razoáveis para a superação das teorias fundacionalistas ou objetivistas do conhecimento. O presente trabalho será realizado através de pesquisa bibliográfica, que abordará o texto filosófico como uma peça argumentativa. O método utilizado será o hermenêutico, com base nesta orientação metodológica será realizada a análise e estrutura dos textos pesquisados, que apontará a seguinte conjectura hermenêutica: a) caracterização da teoria das crenças de Peirce; b) compreensão da sua abordagem fenomenológica; c) Investigação do conceito de realidade para elucidar a teoria da verdade em Peirce e d) articulação entre as teses principais de Peirce e a teoria da verdade.
José Luis de Barros Ghimarães; Heraldo Aparecido Silva | UFPI, Brasil
Experiência, vivência e sabedoria de vida: Walter Benjamin e a dimensão pragmatista de sua teoria narrativa
As reflexões epistemológicas contemporâneas que possuem o pensamento filosófico de Walter Benjamin (1892-1940) com referencial teórico central, normalmente costumam desenvolver o aspecto idealístico-romântico, presente nos seus escritos de juventude, bem como a dimensão materialista-histórico-dialética das suas reflexões sobre a vida, a partir do seu encontro com o marxismo. Embora as correntes epistemológicas supracitadas possam ser consideradas cores marcantes no quadro geral da sua filosofia, acreditamos ser possível encontrar tonalidades pragmatistas em sua gnosiologia com base na relação intercambiável proposta pelo autor entre experiência, narrativa e sabedoria prática de vida. Pretendemos evidenciar que, para Benjamin, o paradigma epistemológico da sociedade moderna capitalista além de não ser suficiente para explicar inúmeras outras dimensões da vida humana que não são objeto de investigação do paradigma epistêmico moderno, acabam por desconectar o conhecimento do mundo do complexo fenômeno da vida. As experiências (Erfahrung), pensada aqui em um sentido integral e comunitário, vão sendo gradativamente senso substituídas por vivências (Erlebnis), entendido aqui em um sentido fragmentado e individualizado. Torna-se necessário então pensar em um conceito mais amplo de experiência que nos possibilite reconectar o conhecimento com a dimensão concreta da vida. E a reflexão benjaminiana centrada nas categorias de experiência, vivência, narrativa e sabedoria de vida podem servir como chave de leitura para pensarmos na formulação de paradigma epistemológico mais amplo, que reconheça outros tipos de experiências como forma de conhecimento em prol da vida numa perspectiva pragmática. O referencial teórico central utilizado foram os dois textos de juventudes de Walter Benjamin, Experiência e Sobre o Programa de Filosofia do porvir, publicados entre a década de 10-20, bem como dois celebres escritos de maturidade do pensador, respectivamente intitulados Experiência e pobreza e O narrador: considerações sobre a obra de Nicolai Leskov, pulicados entre os anos 30-40. Com base nas reflexões apresentadas pelo autor escritos supracitados, temos o propósito de explicitar a dimensão pragmatista da narratologia desenvolvida pelo filósofo alemão.
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 2
09/11/2021 - Terça-feira
18h - 20h15 | Horário de Brasília
Sessão de comunicações 2
Estética e Semiótica da Arte
Gihad Abdalla El Khouri | FTEC-Curitiba, Brasil
Arquiteturas imprevisíveis por meio do novo pragmatismo de Rajchman
John Rajchman, filósofo estadunidense, faz da arquitetura, da arte e do urbanismo figuras centrais em seu pensamento a partir dos quais compõe espaços criadores e conectores. Neste contexto, em 1998 realiza seu livro Constructions, no qual apresentou o amadurecimento e a conexão entre diversos pensamentos desenvolvidos em anos anteriores propondo um complexo arquitetônico-filosófico, criativo e propositor de novos caminhos possíveis à disciplina. No ano anterior irá apresentar na conferência Anyhow o ensaio “A New Pragmatism?” que viria a ser publicado no ano seguinte, no qual, explorando de Kant a Foucault, evoca aquilo que fora o pragmatismo e abre à novas possibilidade do sistema de pensamento tornando-o capaz de conter a vida contemporânea, em seus múltiplos agenciamentos e linhas de força que escapam ao controle e às determinações programáticas, em uma abordagem deleuziana. Desta forma o filósofo permite ao campo o estabelecimento de arquitetura imprevisíveis, não programáveis que estabelecem relações mais complexas e profundas com a realidade, ressingularizando os ambientes em contraposição às determinações pré-estabelecidas que acabam por sujeitar a arquitetura a simplificações e generalidades. Destarte, espera o filósofo, promover um pragmatismo de criação e resistência ao presente, diferentemente do pragmatismo comunicacional ou informacional. Assim, a presente comunicação propõe uma investigação teórico-explanatória, sobre a arquitetura filosófica realizada por Rajchman por meio da sua proposta de um novo pragmatismo, pautado nas ideias de diagrama e diagnóstico, em conexão com os demais pensamentos arquitetônicos do filósofo, apresentado em “Constructions”, seu texto mais maduro, buscando desvelar arquiteturas imprevisíveis na ampliação e exploração de caminhos possíveis à prática e à teoria arquitetônica.
Gabriela L. M. Moreira; Eluiza B. Ghizzi | UFMS, Brasil
Repensando o elemento da razão na estética da arquitetura: contribuições da filosofia pragmatista de Charles Sanders Peirce
A arquitetura moderna é amplamente reconhecida por ter provocado uma mudança radical no curso da história arquitetônica e urbana, assim como um efeito igualmente desestabilizador para a profissão quando algumas de suas crenças profundamente enraizadas falharam no teste da experiência, marcando um período de crise, dúvidas e ação investigativa que ecoa até os dias atuais. Organizada em torno de um discurso de ruptura com a tradição, a partir das inovações técnicas propiciadas pelos avanços da ciência e da tecnologia no início do século XX, a produção arquitetônica moderna encontrou novas expressões formais na tentativa de responder aos problemas urbanos então emergentes. Entre estas, as correntes minimalista e funcionalista tornaram-se signos da racionalidade arquitetônica, caracterizadas pelo recurso à abstração formal e pela ênfase na organização funcional do espaço, aludindo à economia e à eficácia da máquina industrial. Apesar de sua orientação vanguardista, o racionalismo moderno pode ser entendido como atualização de uma inclinação estética fundada na razão que remonta à Antiguidade Clássica, pois não contesta os princípios de proporção, harmonia e simetria, os quais compõem um conjunto de valores racionais recorrentes como diretrizes estilísticas e tipológicas para a concepção arquitetônica em diferentes períodos históricos. Além disso, tal inclinação encontra continuidades na arquitetura contemporânea, como a partir das influências recebidas do estruturalismo linguístico, da cibernética e, mais recentemente, do uso de softwares de diagramação, com a assimilação das tecnologias digitais no processo de projeto. Na arquitetura contemporânea, contudo, essa inclinação deve conviver com a crítica imposta às correntes racionalistas, a partir da década de 1960, segundo a qual teriam desconsiderado a dimensão da experiência e a complexidade dos fenômenos. Conceitos como forma, abstração e, mesmo, ciência, passaram a ser questionados no interior do campo da arquitetura. Nesse mesmo período, observa-se, ainda, uma maior aproximação entre arte e arquitetura, não apenas convergindo para o objetivo de mediar experiências, em detrimento da criação de objetos (SCHULZ-DORNBURG, 2002), mas também no que concerne ao questionamento de suas fronteiras disciplinares (VIDLER, 2013). A filosofia pragmatista de Charles Sanders Peirce (1839-1914) nos permite reconsiderar o elemento da razão na arquitetura, sem incorrer nas limitações atribuídas ao racionalismo ou em uma concepção mecanicista dos fenômenos. Para tal, colocamos em destaque a base fenomenológica da arquitetura filosófica peirciana, pois sua classificação sequencial das três categorias universais da experiência fundamenta a subdivisão e a interdependência entre as ciências normativas – estética, ética e lógica, ou semiótica –, as quais devem ser entendidas em sua estreita relação com o ideal pragmatista de crescimento da razoabilidade concreta. Enquanto uma ciência normativa, a estética compreende a formação crítica de hábitos de sentimento na definição de um ideal que guie a conduta e o pensamento (CP 1.574). A razoabilidade, por sua vez, não se confunde com uma razão exclusivista, pois consiste em uma racionalidade que incorpora o sentimento e a ação (SANTAELLA, 2017). Nesse sistema, admite-se que não somente deve haver algo de estético na ciência, como a própria qualidade estética da arte parece envolver um sentimento razoável, que se pode compreender a partir de sua forma materializada no mundo (CP 5.113; SANTAELLA, 2017). Além disso, a vantagem da razão, ou o que a determina, é, para Peirce, o autocontrole na (auto)crítica do raciocínio (DE WAAL, 2007), assinalando o traço evolutivo da mente na capacidade de aprendizado com a experiência e de mudança de hábito (IBRI, 2015). Propomos repensar, com base no pragmatismo, o elemento da razão com relação à dimensão estética da arquitetura, considerando a abertura conceitual para a temporalidade dos processos de significação que se desdobram no diálogo entre pensamento e experiência, motivando a evolução desse campo do conhecimento.
Luiz Fernando de Biazi Seba | PUC-SP, Brasil
Uma outra possibilidade para a epistemologia da arquitetura
Esse ensaio objetiva investigar, à luz da ideia de uma dupla face dos hábitos (IBRI), como o conceito de funcionalização se modifica através do tempo e como aparece em dois modelos epistemológicos que são apresentados no livro Primitive Future (2018) do arquiteto Sou Fujimoto. Contrastam-se as metáforas de ninho e caverna como possíveis meios de projetar, pensar, usar e comunicar o espaço. O modelo do ninho nasce como espólio da primeira revolução industrial e de sua consequente alteração na velocidade da produção. Passa-se da manufatura à maquinofatura, altera-se o método de reprodução de riquezas. Em face às novas pautas sociais da cultura e ao mundo globalizado e digitalmente conectado, vê-se a necessidade de um projeto que vá contra a lógica reprodutiva que domina nossas cidades desde a revolução industrial e parece imperar ainda sobre a cidade contemporânea. O modelo da caverna nasce como uma possível revisão da ideia de que forma-segue-função, slogan máximo do modernismo arquitetônico que tinha como objetivo construir casas-tipo para corpos-tipo. Aberto às possibilidades mais variadas de uso do espaço, o habitar do futuro primitivo se mostra cada vez mais complexo à medida que o corpo apreende o espaço com seus sentidos. Faz-se necessário interpretar esses indícios apreendidos nas formas côncavas ou convexas, na temperatura agradável ou não, nas texturas que instigam ou repelem nosso toque e que geram variadas formas de uso. Um dos modelos parece apto a diminuir o dispêndio de energia menta, enquanto o outro parece fazer com que a mente trabalhe sempre em alta energia. Ao entender o conceito de funcionalismo enquanto terceiridade que inibe/estimula o processo criativo da primeiridade em obras de arquitetura, conecta-se o campo dos estudos de arquitetura ao pragmatismo e à semiótica de Peirce, demonstrando mais uma vez que, a cada dia, as ciências se mostram mais adisciplinares e ressonantes (FERRARA). A dupla face dos hábitos se reafirma em modos distintos de pensar arquitetura e espaço.
Silvana Borges da Silva | MAS-SP; USU-RJ e LABÔ-PUC-SP, Brasil
Da púrpura ao vermelho escarlate, a simbologia de uma cor divina
A cor faz parte de todos os discursos e disciplinas, da história natural à teologia. A cor púrpura fabricada na cidade de Tiro e comercializada pelos fenícios (o nome Phoenicia significa terra do púrpura) se tornou um símbolo de status em várias civilizações. A púrpura de Tiro tornou-se a cor dos reis, nobres, sacerdotes e magistrados de todo o Mediterrâneo. A cor púrpura estava também associada ao granito pórfiro utilizado apenas em edificações imperiais, o conceito de porfirogenitos era conhecido desde o século VI, quando uma criança nascida de um imperador reinante era considerada porfirogenitos, ou seja, nascida na Câmara Púrpura revestida de pórfiro onde as imperatrizes davam à luz. A cor não apenas influenciava como os indivíduos eram percebidos pelos outros, mas também expressava crenças e aspirações pessoais. O contexto era crucial e esse matiz específico transmitia a mensagem de divindade e poder. O fator importante sobre a púrpura de Tiro não era apenas sua cor, mas seu brilho, sua resistência ao tempo e à luz e seu alto preço, era um marcador de diferença e distinção, tão valorizada em Roma que somente pessoas de posição social mais elevada como magistrados, cônsules e o imperador tinham permissão para usá-la, uma restrição constante das leis suntuárias e cuja desobediência era punida com a morte. Seu valor monetário e simbólico refletia hierarquias sociais e de uso restrito a descendência de imperadores cujo poder era equiparado pela cor dos mantos e túnicas do Pantokrátor e da Theotokos como indicação do poder divino. A cor que se deveria honrar a Deus era também, na Antiguidade, a cor dos soberanos. Um texto apócrifo cristão primitivo relaciona as representações da Anunciação com a cor púrpura. O texto do Protoevangelium de Tiago datado cerca do século II d.C. descreve Maria como uma das virgens puras que foi escolhida para ajudar a tecer o véu do templo. A sorte de fiar os fios da verdadeira púrpura e do escarlate coube a Maria: e ela pegou o escarlate e estendeu-o. Por volta do ano 300 d.C., o imperador Diocleciano decretou a tinturaria da púrpura um monopólio imperial e protegido pela pena de morte, transferindo a produção para Bizâncio, mais tarde Constantinopla, atual Istambul. Um símbolo de riqueza na época grega e romana para tingir togas, e na Idade Média para decorar manuscritos, a cor era tão importante, que alguns pergaminhos bíblicos foram tingidos e denominados por códices púrpuras. Na queda de Constantinopla em 1453 a púrpura desapareceu com a destruição das tinturarias imperiais. Com o final do Império Bizantino uma questão prática obrigou o abandono do uso da cor púrpura, mas não de sua simbologia, e então a cor púrpura se tornou o vermelho escarlate, sendo necessário o uso de uma cor substituta para a continuidade da simbologia vestuária e teológica das mais brilhantes das cores já produzidas pelo homem.
Luma Santos de Oliveira | PUC-SP, Brasil
Semiose, arte e experiência estética: considerações sobre a fotografia artística com temática de cotidiano
Como modo de explorar a fundo as especificidades da fotografia com temática de cotidiano no campo da arte, propomos, nesta pesquisa, traçar uma relação entre a experiência estética, a partir das ideias de John Dewey, e a semiose de Charles Sanders Peirce, ressaltando a importância do conceito de continuidade na ação do signo. Ao investigar os estudos a respeito da experiência estética, compreendemos que arte é comunicação, à vista disso é preciso que seja estabelecida uma interação entre organismo e meio. Nesse processo é imprescindível a presença de qualidades desveladas na experiência comum, elas são, para Dewey, raízes expandidas na obra de arte. Para que a experiência estética se efetue, é necessário não apenas receber (estímulos, informações etc.), mas também fazer; isso deve se dar, de maneira equilibrada, tanto no momento em que o artista produz, quanto naquele em que o espectador entra em contato com o produto criado. Assim sendo, buscamos demonstrar de que forma a experiência da obra de arte corresponde ao modo como o signo age, em seu processo de significação. Ou seja, determinamos como as descrições de Dewey se alinham à concepção de Peirce de que, ao entrar em contato com um signo, o intérprete recebe informações de seu objeto, culminando em um interpretante, e assim sucessivamente. Nos interessamos aqui principalmente nas abrangências do interpretante dinâmico, em suas divisões como interpretante emocional, energético e lógico. A fotografia com temática de cotidiano revela retilineamente o interesse na experiência do comum, ela extrai qualidades singulares daquilo que está em nossa rotina e, a partir delas, propicia que a experimentemos de maneira satisfatória por meio da obra de arte. A experiência estética permite romper as barreiras com as quais nos deparamos em nossas rotinas, devido à ânsia que os excessos em fazer e receber, de modo desproporcional, nos direcionam para ações impacientes. A obra de arte pode, portanto, angariar transformações em nossa percepção, através da experiência estética.
Rodrigo dos Santos | PUC-SP, Brasil
A música como universal sucessão da arte em Schelling: análise do "ritmo" enquanto possibilidade da indiferença
Schelling apresenta a música como “a mais universal das artes reais”, e o faz na esteira do conceito de sucessão. Na construção de uma “linguagem-outra” para a filosofia, ele expõe, como é próprio dos idealistas, a ideia de que o som, enquanto transmissão é, no ideal, o real que existe na arte. Em tese, Schelling pressupõe que o “infinito, formado-em-um” no finito, só pode aparecer como e enquanto sonoridade. A melodia schellinguiana, posterior a análise do ritmo, submete-se à orientação simbólica: “onde nem o universal significa o particular nem o particular o universal”. E, quando analisa as dimensões da música, como o ritmo, a modulação e a melodia, apresenta no primeiro aspecto (referido ao ritmo), a ideia de procura de multiplicidade, ou, como capacidade de indiferença, que é exatamente a sonoridade. No fato corporal, a música possibilita o órgão auditivo a integrar-se no seu oposto. Deste modo, o ritmo, é a música “determinada para a reflexão e consciência de si”, ou até mesmo uma enumeração-de-si real da alma. Schelling ao refletir sobre a dimensão do ritmo afirma que “em geral ele é transformação da sucessão em si insignificante numa sucessão significativa”. É por meio do dele que a música se expande qual uma força centrífuga, ou seja, a música possibilita a experiência única, o inesperado, a sempre-novidade. Em outros termos, o ritmo possibilita o ser humano em superar a pura identidade, pois nele se procura a multiplicidade, a indiferença e a superação constante do insignificante. Schelling aponta com a ideia primária de ritmo, que “o todo não é submetido ao tempo, mas o tem em si mesmo”, o que de certo modo não se trata apenas de uma imposição externa, ou ainda, não significa uma limitação do tempo, mas é o ritmo que institui sua própria cadência.
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 3
10/11/2021 - quarta-feira
17h -19h15 | Horário de Brasília
Sessão de comunicações 3
Pragmatismo em James e Dewey
Federico Ezequiel López | CIeFi, UNLP, Argentina
Repensando a tecnologia através da abordagem estética, política e religiosa de Dewey
A tecnologia é um fenômeno de relevância cultural incontestável. As culturas estão cada vez mais tecnológicas e nos tornamos cada vez mais, para usar a conhecida expressão de Latour, “seres biotecnológicos híbridos”. Assim, o crescente interesse pela filosofia da tecnologia nas últimas décadas não é uma surpresa. Notoriamente, porém, este contexto disciplinar tem negligenciado desenvolvimentos teóricos como o de John Dewey, que poderia ser considerado como o primeiro filósofo americano da tecnologia. Isso provavelmente resulta do fato de Carl Mitcham ter inserido Dewey na engenharia e tradição tecnocrática dentro da filosofia da tecnologia, que ele enxerga como não sendo uma abordagem enriquecedor à tecnologia. Ao contrário dessa afirmação, o objetivo deste trabalho é oferecer uma visão geral da filosofia tecnológica de Dewey, destacando seus aspectos mais relevantes e a contribuição que estes poderiam dar para a filosofia da tecnologia atual. Argumentaremos que a filosofia tecnológica de Dewey deve ser considerada como se consistisse em três dimensões: estética, política e religiosa. A primeira pode ser associada ao conceito de situação de Dewey, cuja característica principal é o imediatismo afetivo e qualitativo. Isso nos ajuda a entender a dupla relação que o ser humano tem com os objetos técnicos, como um componente necessário em qualquer tentativa de caracterizá-los. Em segundo lugar, os insights de Dewey sobre a “cultura material” e sua relevância na constituição do público, juntamente com suas preocupações éticas e políticas sobre os usos da ciência, constituem um bom ponto de partida para pensar sobre a dimensão política da tecnologia e como ela reestrutura a sociedade. Por fim, mas não menos importante, a confiança de Dewey nas possibilidades da tecnologia pode ser considerada uma aposta na fase religiosa da experiência tecnológica que, como descrito em “A Common Faith”, refere-se a um tipo de experiência capaz de resultar em uma melhor integração à vida. Ao abordar as discussões atuais sobre a filosofia da tecnologia, tais pontos de vista podem se mostrar úteis. Assim, a dimensão estética não só pode explicar alguns traços na relação entre o ser humano e a tecnologia, mas também pode complementar criticamente o conceito de objetos técnicos como funcionais, uma ideia que parece ser amplamente aceita nos debates atuais sobre a natureza dos artefatos. Além disso, as reflexões políticas de Dewey sobre tecnologia e, mais especificamente, sua análise da cultura material e da tecnologia, nos ajuda a refletir sobre o caráter de valor agregado da tecnologia e os diferentes desafios que a cultura democrática enfrenta na era das redes sociais. Finalmente, o que chamamos de dimensão religiosa da experiência tecnológica, nos ajuda a pensar sobre os problemas e desafios atualmente colocados pelo transhumanismo. Ela oferece um critério, na linha do que foi discutido recentemente por Alfredo Marcos ou Ciano Aydin, para abordar criticamente a “valorização” do ser humano, que o transhumanismo defende.
[Versão para o português de Tomas Drunkenmolle, PUC-SP, Brasil]
Horacio Héctor Mercau | USP, Brasil
Deliberação retórica, democracia e educação em John Dewey
Esta comunicação tem como objetivo examinar a noção de democracia como uma ação criativa, com base em reflexões políticas desenvolvidas por Dewey. Nosso objetivo é destacar que a concepção educacional deweyana não se separa de uma análise precisa do espaço público e do problema de deliberação que deriva dele, e é permeada por uma preocupação concernente às emoções. Apresentamos a democracia criativa como fundamento para uma escola democrática, com o intuito de reunir elementos teóricos destinados a pensar o sujeito humano, tal qual na proposta de Dewey. Uma investigação assim nos permitirá examinar as emoções como práticas discursivas que sublinham a função especial desempenhada pelos discursos e práticas na constituição da subjetividade. Em consonância com Dewey, propomos que a democracia criativa oriente nossas ações. Para isso, devemos reconhecer que as emoções são o elemento fundamental que nos habilita a rever nossa disposição para realizar essa tarefa. A concepção de Dewey acerca das emoções nos fornece uma reinterpretação da origem das normas que dizem respeito ao enfrentamento do problema da motivação. O sujeito se constitui enquanto se relaciona com o outro, adotando seu ponto de vista. É a capacidade de assumir papéis alheios o que permite nosso conhecimento do mundo e a constituição de nossa identidade e, portanto, a moralidade. Dewey nos oferece uma reinterpretação do problema da motivação: é a interação entre os sujeitos o que constituiu os próprios sujeitos. Nesse processo, emoções e paixões não são dados primitivos, mas frutos da interação social, sendo, portanto, modificáveis. A sociabilidade, para Dewey, é a origem da constituição do eu, o fator decisivo para a reinvenção da democracia, para instituir uma ação criativa que, por sua vez, possa reinventar a democracia. Por esse motivo, a deliberação – elemento fundamental da retórica – é uma ferramenta que a sociedade precisa cultivar. O ponto central de uma democracia criativa que inclui deliberação, no sentido deweyano, é a ideia de que a deliberação precede e pode ser diretamente conectada a um curso de ação decidido coletivamente. É importante buscar que o público de massa seja comunicado, mesmo em momentos de decisão como eleições. No minipúblico, os processos de deliberação são acessíveis, mas se alguém estiver interessado na democracia criativa, deliberativa e retórica como um amplo modelo de legitimidade, o público em geral precisa ser incluído. Diferentemente das teorias deliberacionistas, a proposta de Dewey adota uma visão mais ampla da deliberação, incluindo a retórica, promovendo assim associações coletivas e públicas. Nesse sentido, Joshua Forstenzer em Deweyan Experimentalism and the Problem of Method in Political Philosophy (2019) propõe uma mudança de abordagem em relação ao tratamento de Dewey acerca do potencial prático da filosofia e sua compreensão da democracia. Da mesma forma, oferece-nos recomendações para a renovação democrática em condições de desempoderamento popular generalizado. De acordo com Forstenzer, a filosofia política em Dewey é voltada para empoderar, ao invés de instruir, cidadãos democráticos. O empoderamento democrático dos cidadãos é totalmente relevante para as necessidades políticas atuais. Nesse sentido, nos propomos responder ao argumento devastador de Robert Talisse de que na última década afirmou que a democracia de Dewey não se adapta à concepção de Rawls acerca de um “pluralismo razoável” porque está comprometida com uma concepção perfeccionista do bom. Acreditamos que o pensamento político de Dewey é compatível com o pluralismo e sustentamos que seu ideal democrático não implica tais compromissos perfeccionistas. A democracia em Dewey pode ser entendida como uma espécie de liberalismo político rawlsiano, na medida em que não promove nenhum "fim intrinsecamente valioso", mas maximiza a capacidade da comunidade para a resolução inteligente de problemas e sem privilegiar qualquer concepção particular do bem.
Valdirene Aparecida Pascoal; Alexandre Robson Martinês; Wilson Roberto Veronez Júnior | Unesp, Brasil
Pragmatismo e a concepção do conceito na organização do conhecimento: contribuições de James e de Peirce
Este trabalho pretende analisar potencialidades do pragmatismo para fundamentar argumentos na atualização do conceito na Organização do Conhecimento. Hjorland, ao debater sobre a epistemologia do conceito, evidencia sua importância para a realização de uma performance cognitiva. Nessa linha, dentre as epistemologias apresentadas, Hjorland se aproxima do pragmatismo de William James, filósofo americano, que defende a estabilidade e permanência dos conceitos, isto é, “o mundo muda, o sujeito que percebe muda, mas os conceitos devem permanecer inalterados porque sua função é fixar o que se pensa” (HJORLAND, 2009, p. 1522). Para Hjorland (2009), o pragmatismo é o método mais adequado para basear o conhecimento na análise de objetivos, propósitos, valores e consequências. Ele comenta que o pragmatismo entende o conceito como uma maneira de fixar peças da realidade no pensamento, na linguagem e em outros sistemas simbólicos. Todavia, há considerações contra a estabilidade do conceito, pois analisa que o conceito novo pode carregar características semelhantes ao conceito mais antigo que ele substitui, diante do qual se caracteriza uma mudança conceitual. Assim, aponta-se que os conceitos são ferramentas para pensar e comunicar sobre as práticas humanas, consequentemente evoluem com elas. A Organização do Conhecimento tem o conceito como instrumento de representação, entendido como uma unidade de conhecimento, consequentemente se constitui como um elemento que caracteriza e que oferece subsídio para a produção do conhecimento (DAHLBERG, 1978, FRIEDMAN; THELLEFSEN, 2011, BARITÉ, 2015). A função do conceito é fornecer uma base para interagir com o universo. Conceitos fornecem horizontes e aprendizados em um mundo contínuo (HJORLAND, 2003, 2009). Segundo Hjorland (2003), os conceitos podem ser analisados e estudados de maneira interdisciplinar, ou seja, está vinculado a estudos da Psicologia, Linguística, Filosofia, Sociologia e Inteligência Artificial. Para James, os conceitos classificam o mundo por interesses subjetivos, consoante a fins privados, relacionados a fins sociais ou coletivos. Em seu pragmatismo, James buscava responder ao escapismo dos racionalistas e ao materialismo dos empiristas, portanto, inspirado em Peirce, propõe uma teoria do pragmatismo vinculada à noção de verdade, em que “uma ideia, crença ou afirmação é verdadeira quando concorda com a realidade, é falsa quando discorda” (DE WAAL, 2007, p. 69). Hjorland indica que, para o pragmatismo, conceitos são formas de fixar partes da realidade no pensamento, na linguagem e sistemas simbólicos, e essa fixação é decorrente de classes funcionais equivalentes das coisas. Peirce, para diferenciar sua teoria do Pragmatismo de James, propõe o Pragmaticismo e alia a ação do indivíduo ao ideal de conduta: “O que pensamos é interpretado em termos daquilo que estamos preparados para fazer, com base na deliberação.” (PEIRCE, CP 5.27; p. 116, 1903). Assim, a máxima pragmática peirceana se orienta como uma máxima de conduta, em que a deliberação é um guia para ação; diferente de James, que mantém o pragmatismo em termos de significação de um conceito a partir de sua aplicação e validação no mundo. Com base na caracterização pragmatista peirceana, é possível adotar uma postura falibilista em relação ao conceito. O que não seria possível no pensamento de James: “Toda a função da filosofia deve ser a de achar que diferença definitiva fará para mim e você, em instantes definidos de nossa vida, se esta fórmula do mundo ou aquela outra for verdadeira”. (JAMES, 1979, p. 19). Entende-se, portanto, que a máxima pragmática peirceana, ao abarcar elementos do realismo e falibilismo, é capaz de fundamentar uma noção de verdade que não se interrompa. Pelo contrário, a noção de verdade é fundamentada no real, que guia a ação pela manutenção de um hábito com tendência à razoabilidade, ou seja, perpassa a significação e reivindica o continuum do conhecimento.
Frederik Moreira dos Santos | URFB, Brasil
Os caminhos da reificação informacional: uma perspectiva pragmático-marxista da teoria da informação
Estamos vivendo uma situação de reificação do conceito de informação de forma semelhante ao que ocorreu e, ainda ocorre, com o conceito de energia. Durante os séculos XVIII e XIX, o conceito de energia se tornou central nas engenharias e na termodinâmica, mas apenas tardiamente este se tornou satisfatoriamente definido como um processo e sua potencialidade. Alguns textos deweyanos chamam a nossa atenção para o processo que leva os resultados da investigação a serem hipostasiados. Movimento crucial do pensamento e da prática na construção de modelos e teorias científicas. Porém, John Dewey nos chama atenção para os problemas filosóficos provenientes do esquecimento do processo vivo e ativo da investigação aberta e contínua. Utilizaremos o caso do conceito de informação como exemplar desta análise crítica e articulamos o pensamento deste filósofo com as reflexões marxianas sobre fetichização da mercadoria para compreender com maior profundidade aquilo que tem ocorrido com o conceito de informação na contemporaneidade. Propomos a aproximação conceitual do conceito de hipostasia em Dewey, com o conceito utilizado largamente por autores marxistas, i.e., o conceito de reificação. Mostraremos que este último se assemelha com o segundo, sendo que o significado de reificação é acrescido de uma dimensão política e econômica em sua definição. Assim, a substancialização e reificação do conceito de informação se torna presente nas linguagens técnica e ordinária da seguinte forma: armazenamento de informação (dado e memória), valor de pacote de dados, manipulação da informação etc. Tal abstração e sistematização conceitual tem se tornado central nas ciências desde o século XX, porém, que pese a sua importância na cultura contemporânea, ainda há muito a se esclarecer e a se avançar quanto à sua definição e o compromisso de parte da academia com a dimensão reificada da informação nos traz indícios para compreender tais obstáculos. Hoje em dia temos diversas propostas para se definir informação a fim de atender certos propósitos específicos, que vão desde a quantificação de dados, aplicações na linguística até a solução de alguma questão epistêmica relacionada aos seus fundamentos. A despeito das medições que podem ser feitas a partir da equação de Shannon-Weaver, defendemos que tal equação não dá conta de capturar a dimensão semântica da comunicação. Faremos uma análise crítica do uso e de algumas formas de se conceituar informação
Bruno Bueno Poli | PUC-SP, Brasil
A filosofia moderna e William James sobre o comércio psicofísico
A presente comunicação terá como objetivo apresentar sucintamente o desenvolvimento do problema do comércio psicofísico, começando por Descartes e seus pressupostos, passando por suas respostas canônicas na filosofia moderna e culminando no monismo neutral de William James. O problema do comércio psicofísico surge especialmente a partir de Descartes através da distinção “substancial” entre alma e corpo e seus respectivos atributos, pensamento e extensão, os quais formam uma disjunção exclusiva; isto é, aquilo que pensa não é extenso e vice-versa. Além disso, o atributo pensamento é entendido nesse contexto no marco de sua teoria representacionalista – pensar é antes de tudo relacionar-se com “itens mentais” e não diretamente com qualquer tipo de realidade. Aceitos esses pressupostos, surge a pergunta pela inteligibilidade da relação dessas duas substâncias independentes e que não compartilham nenhuma propriedade. Nos casos básicos da percepção e movimento voluntário, a pergunta diz respeito à possibilidade de que movimento (modo da extensão) produza representação e representação (vontade) produza movimento. Parece que nenhuma dessas relações seria inteligível sob o pano de fundo dessa metafísica. Embora a resposta de Descartes ao problema tenha sido reconhecida como insatisfatória, o problema por ele introduzido não o foi. Na filosofia moderna três teorias tornaram-se canônicas como respostas a ele: ocasionalismo (Geulincx, Malebranche), harmonia pré-estabelecida (Leibniz, Wolff) e influxo físico (Suarez, Crusius, Kant pré-crítico). Essas respostas compartilham os pressupostos cartesianos tanto do representacionalismo quanto da ontologia da substância. Sobretudo depois da ruptura com a metafísica tradicional efetuada por Kant e os desenvolvimentos da psicologia do século XIX, o dualismo deixa de ser substancial, para tornar-se um dualismo fenomênico, onde a distinção ocorre entre fenômeno/experiência interna e externa. A pergunta sobre a possibilidade de relação entre ambos, não obstante, continua, em especial para aqueles que pressupõe o representacionalismo. Inserido nesse contexto, William James, influenciado por Mach, propõe sua teoria do monismo neutral, segundo o qual mente e corpo são apenas complexos de elementos neutros (cores, temperaturas, pressões, espaços, tempos etc.) em relações mais ou menos estáveis. Para James, esses elementos neutros são constituintes do que ele chama de experiência pura, não sendo ainda nem sensação nem objeto físico. Eles são particulares aos quais temos acesso imediato, sem a interposição de uma representação. Sob sua base e suas conexões causais surgem os objetos mentais e físicos. Assim, dado que o mental e o físico se reportam aos mesmos elementos considerados sob relações diferentes, não há um hiato intransponível entre ambos. Rejeitando a teoria representacionalista e a distinção absoluta entre mental e físico, seja em sua variante substancial ou fenomênica, James parece conseguir dar conta da relação entre ambos.
Conceição de Maria Sousa Araujo | UFPI, Brasil
John Dewey: epistemologia pragmatista: experiência e natureza
Este presente estudo com o tema: John Dewey: Epistemologia Pragmatista: Experiência e Natureza, pretende fazer uma reflexão sobre a influência do darwinismo na filosofia de John Dewey e a evolução do pragmatismo norteamericano. O artigo busca investigar através da obra de Dewey : La Miseria de La Epistemología(2000), como Dewey interpretou o evolucionismo darwiniano na sua teoria do conhecimento. O objetivo da pesquisa é trazer a discussão, como se manifestou as ideias de evolução do pragmatismo norteameriano, como também analisar a contribuição das descobertas de Darwin sobre a evolução das espécies, sabendo dos seus impactos no pragmatismo no que se refere a noção de experiência e natureza. Concluindo que a contribuição de Dewey para a emancipação e resignificação da filosofia, é indiscutível, por representar no campo de conhecimento, uma nova lógica baseada na experiência e na ação como formentadoras de novos hábitos. Por fim, ressaltaremos as possíveis contribuições e implicações filosóficas para a noção de natureza e experiência no pragmatismo a partir do entendimento da teoria evolucionista.
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 4
10/11/2021 - quarta-feira
17h -19h15 | Horário de Brasília
Sessão de comunicações 4
Pragmatismo, Arte e Humanidades
Jessyca Eiras Jatobá Santos | Unesp - Marília, Brasil
Antropomorfismo como método e empiria como profilático: por um conceito de humano não cindido da natureza
O objetivo do presente trabalho é a elucidação da concepção do humano enquanto pertencente ao mundo natural através dos debates a respeito do conceito de antropomorfismo – e sua culminância na concepção de tal postura enquanto método na etologia contemporânea. O conceito de antropomorfismo, em sua emergência, foi compreendido como a atribuição indevida de atributos humanos à animais não humanos. Segundo alguns autores, o antropomorfismo entendido enquanto erro categorial é um equívoco quando não tem como pressuposto a experiência, pois será somente por meio dela que saberemos se uma característica é exclusivamente humana ou não. Tal compreensão pode implicar que sob o medo do antropomorfismo, podem estar ocultos pressupostos antropocêntricos e o exagero e superintelectualização das capacidades humanas. O debate sobre como interpretar os resultados de estudos em animais não humanos em comparação com estudos em humanos poderia ser visto como um debate sobre uma aplicação inconsistente do que o psicólogo C. Lloyd Morgan erigiu como seu cânone, também conhecido como princípio do conservadorismo. Segundo o Cânone de Morgan, entende-se que não devemos interpretar uma ação como resultado do exercício de uma capacidade superior se ela puder ser interpretada como o resultado de uma faculdade cognitiva mais baixa na escala psicológica. A aplicação de tal princípio é inconsistente, segundo alguns autores, porque, embora seja uma regra de ouro na pesquisa sobre cognição animal, ela raramente é respeitada na pesquisa sobre cognição humana. Sorber (1998) entende que existem fatores culturais que produziram ênfase desigual no pensamento científico. O autor chama a atenção para o fato de que o cânone de Morgan implica que nós somos obrigados a não assumir a existência de faculdades superiores sem que tenhamos evidências para tanto, o que não implica assumir a inexistência dessas faculdades – coisa que, segundo ele, Morgan tem a pretensão de sustentar. Não presumir a existência de algo é diferente de presumir sua inexistência. O autor, então, explora as implicações de substituir as palavras “superior” e “inferior” do cânone de Morgan pelas palavras “derivado” e “ancestral” Quando há essa substituição, o argumento leva à uma conclusão diferente da de Morgan, pois o princípio da parcimônia nos levará a não tratar os seres humanos como diferentes dos demais seres vivos. Dessa maneira, se dois comportamentos são homólogos, então a hipótese de que são produzidos pelos mesmos mecanismos ou mecanismos próximos é mais parcimoniosa. É nesse sentido que a etologia contemporânea, como a de De Waal (2007) e Bekoff (2007) entendem que quanto mais próxima de nós seja uma espécie, mais o antropomorfismo pode contribuir para a sua compreensão e maior será o prejuízo da negação dessa atribuição. De Waal nomeia essa resistência ao atribuir semelhanças entre animais humanos e não humanos de “antroponegação”. O estudioso procura mostrar que os cientistas que trabalham com animais não humanos – especialmente um animal próximo de nós evolucionariamente – não podem deixar de interpretar muitas de suas ações em termos normalmente utilizados em relação a humanos (no que são acusados por outros cientistas de antropomorfismo). Há aqui o entendimento que a descrição que aproxima humanos e animais não humanos adota uma linguagem que estamos acostumados a utilizar para o comportamento humano. Nesse sentido, é inevitável e até necessário que ditas descrições soem antropomórficas. Mais do que a reformulação da forma como vemos animais, a postura que precede nosso conhecimento da cognição animal deve ter em vista a reformulação do conceito de humano, partindo-se da dimensão empírica.
Jéssica Ágne Campêlo Nunes; Heraldo Aparecido Silva | UFPI, Brasil
A redescrição da noção de cultura monstro a partir da filosofia de Richard Rorty
Nossa proposta de pesquisa evidencia que o tema da cultura monstro é abarcado pela filosofia de Rorty. O problema da pesquisa consiste em investigar de que modo a cultura monstro pode ser efetivamente articulada com as ideias de Rorty (2007). Nossa hipótese de trabalho é que a noção de cultura monstro pode ser ampliada imaginativamente para contemplar alguns dos principais pontos da filosofia rortyana. Tal articulação será realizada pela análise e argumentação bibliográfica dos textos filosóficos e também através do uso de histórias em quadrinhos filosóficos, nos quais os temas trabalhados sejam abordados numa perspectiva neopragmatista. Dessa maneira, podemos interpretar o conceito de cultura monstro como uma junção alternativa daquilo que Rorty considera como pessoas estranhas, injustiçadas, diferentes, excluídos e marginalizados. A proposta da pesquisa consiste então, em realizar uma redescrição do conceito de cultura monstro a partir da filosofia de Rorty (2007). Com isso, partimos para a ideia de que os quadrinhos demonstram várias questões éticas e morais que, mesmo que sejam de maneira indireta, podem ser relacionadas aos temas filosóficos aqui propostos como tema de estudo (SILVA, 2021). Assim, podemos fazer questionamentos filosóficos acerca de uma certa leitura, desenho ou expressão. A marginalização de certos indivíduos ou grupos sociais é inicialmente causada por questões éticas sobre seus diferentes comportamentos ou fora dos padrões normativos contemporâneos (COHEN, 1996). Nessa perspectiva, as redescrições de vocabulário ajudam a criar monstros culturais. Assim, é importante entender o que leva uma determinada sociedade a decidir o que é certo e o que é errado por meio da redescrição de vocabulários e por que o corpo do monstro e o vocabulário do monstro são significativos para se pensar sobre essa questão. Nós podemos criar novos indivíduos usando quadrinhos filosóficos, usando novas redescrições para o vocabulário do monstro. A criação de redescrições sobre a cultura monstro pode contribuir para o desenvolvimento de novas subjetividades, novos seres humanos e novas práticas sociais (RORTY, 2007). Podemos chegar a isso lendo quadrinhos filosóficos e entendendo porque não devemos marginalizar as pessoas, como defende Rorty.
Francisco Raimundo Chaves de Sousa; Heraldo Aparecido Silva | UFPI, Brasil
A função social das narrativas e metáforas literárias na filosofia de Richard Rorty
A pesquisa tem como proposta investigar a função social das narrativas e metáforas literárias na filosofia de Richard Rorty. Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico centrada em alguns momentos específicos da produção filosófica rortyana, nas quais são discutidas as noções de narrativas e de metáforas literárias. Também utilizamos textos de outros filósofos e críticos literários cujos textos foram citados por Rorty no contexto da discussão do tema aqui tratado, tais como: Umberto Eco e Milan Kundera. Serão utilizados como referencial secundário, obras e artigos de intérpretes que abordem temas de ética, filosofia política e filosofia social no pensamento de Rorty. O ponto central da investigação implica no reconhecimento de uma divergência entre as posições de Eco e Rorty acerca da noção de interpretação; e também na proposição de uma convergência entre a interpretação de Kundera e Rorty sobre o aspecto filosófico dos romances literários. Embora essa convergência não seja explicitada por ambos os autores, temos elementos nas suas respectivas produções teóricas que atestam a influência de Kundera sobre Rorty no que tange ao uso de metáforas e narrativas literárias na discussão de temas políticos, éticos e sociais. Tal constatação é relevante porque nos leva a apresentação dos resultados de nossa pesquisa, segundo os quais a interpretação do neopragmatista de Rorty propõe um uso prático para as metáforas e as narrativas literárias como elementos fomentadores de mudanças individuais e sociais, visto que sugerem através da imaginação, cenários éticos, políticos e sociais alternativos; além de inspirar mudanças redescritivas específicas para as descrições dos indivíduos e sua comunidade. Assim, a presente pesquisa evidencia um profícuo campo de estudos para a filosofia contemporânea, particularmente, no neopragmatismo de Rorty.
Izildete de Sousa Torres; Heraldo Aparecido Silva | UFPI, Brasil
A noção de solidariedade rortyana no romance 1984, de George Orwell
Este trabalho tem suas bases teóricas fundamentadas no neopragmatismo de Richard Rorty, que nos propõe que a filosofia se apresenta como um processo de colocar as ideias em diferentes contextos e apresentar novas descrições (CALDER, 2006. p. 9). O tema aqui abordado é o que podemos entender por filosofia prática em Rorty, partindo da noção de solidariedade e seus desdobramentos éticos e políticos. Considerando que George Orwell tem suas obras marcadas por uma consciência profunda das injustiças sociais e uma intensa oposição ao totalitarismo, coube a pergunta da pesquisa: qual a noção de solidariedade desenvolvida por Richard Rorty a partir do romance 1984 de George Orwell? Como descrito na problematização acima, esta pesquisa tem como seu principal objeto de análise a questão da noção de solidariedade rortyana na obra 1984, de George Orwell. Nessa perspectiva, buscou-se observar a base teórica de Rorty expressa na obra Contingência, ironia e solidariedade (2007) e comentadores que interagem com o objeto estudado. Dada a pergunta proposta acima, partiu-se da hipótese de que Orwell, na obra 1984, descreve a política do século XX. Por meio da noção de solidariedade rortyana, destacamos que Rorty concebe o romance como um gênero literário inventivo. Assim, mostraremos o valor inspirador das grandes obras de literatura, destacando o romance nas perspectivas de Milan Kundera, Harold Bloom e Richard Rorty. Na perspectiva de Kundera, devemos observar os conceitos de sabedoria do romance, hipótese ontológica e egos experimentais; Bloom, por sua vez, destaca o conceito de literatura sapiencial; Rorty usa as perspectivas de Kundera e Bloom para ressaltar que os romancistas são inventivos e mais detalhistas que os filósofos. Em seguida, explicitaremos a noção rortyana de solidariedade, destacando os instrumentos do filósofo: redescrição e recontextualização histórica. Feito este percurso, apontaremos algumas questões sobre política, distopias e liberalismo de Rorty em Orwell, para tratar da noção rortyana de solidariedade. Finalmente, abordaremos o solidarismo em Orwell apontando as impressões de Rorty sobre Orwell, para mostrarmos que o resultado da pesquisa tem como indicativo que na obra 1984, de George Orwell, encontramos a noção rortyana de solidariedade.
Tiago Gomes Landim | PUC-SP, Brasil
Mitos e tragédias como lugar de argumentação filosófica
O ser humano é um animal simbólico, capaz de oferecer símbolos como representação do seu mundo interno ou externo. O processo de produção do símbolo, sempre antecedido por uma compreensão daquilo a que se pretende representar, leva, muitas vezes, à criação de universos complexos, permeados de fantasia que preenche com criatividade as lacunas que possam existir na linha de compreensão racional. Historicamente a humanidade tem sido brindada com magníficas narrativas que, ademais de nos encantar com sua estrutura literária, oferece formas de se chegar a lugares jamais pensados, caso fossem desprezados esses estilos narrativos. Já Aristóteles, na obra sobre a poesia e a arte, trata sobre as formas de imitação, ou seja, de representação da realidade de forma mimética, pois o próprio ato de guardar o mundo externo a si dentro da memória já poderia ser entendido como uma espécie de imitação, cuja representação externa posterior quer seja através de palavras que se mostram como ideias ou, como é o caso da obra aristotélica em questão, através da arte como a poesia, a tragédia, a comédia. O problema que surge do conflito na construção de uma narrativa que imita algo é deixar clara a distinção entre o que não é ficção e, portanto, construção como tentativa de retratar o mais fidedignamente possível a realidade e o simples constructo que pode ser nominado de ficção pura e simples. Segundo o filósofo Richard Rorty, essa dúvida trata da possibilidade de distinção entre o real e o fictício. A opção assumida aqui é bem menos ousada do que essa discussão que demandaria uma gigantesca discussão com os fenomenólogos que negam a possibilidade de captação do real por parte dos seres humanos, com os hermeneutas que carregam na subjetividade do contexto de quem olha o comprometimento da credibilidade da possível representação, ou mesmo, como apenas foi sinalizado aqui, uma discussão com a filosofia analítica que busca a plausibilidade dos signos que se utilizam para tratar de refletir sobre algo. Decide-se aqui por colher o que seria o espírito das narrativas mitológicas, é dizer, o estabelecimento de uma ponte entre uma narrativa e o objeto a que se narra com uma intenção de comunicar uma mensagem ao final. A utilização de alguns mitos como metáforas que possam facilitar a compreensão de raciocínios complexos, objetivando o que Aristóteles já denominava o reconhecimento, que “é a passagem do ignorar ao conhecer”. Portanto, a ideia é se utilizar de três mitos bastante conhecidos do grande público – Dédalo e Ícaro, Prometeu, e Narciso – para, a partir de alguns elementos de suas estruturas lógicas, propor a compreensão sobre as concepções de conhecimento, conhecimento científico e conhecimento filosófico. Para também se estabelecer um corte que não exigisse certa “omni-abrangência”, adota-se a linha de pensamento do filósofo Karl Popper.
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 5
11/11/2021 - quinta-feira
15h30 -17h45 | Horário de Brasília
Sessão de comunicações 5
Pragmatismo e Neopragmatismo
Vinicius Francisco Apolinario | UFES, Brasil
Percepção e experiência na teoria fundarentista de Susan Haack
A percepção é um elemento central de discussões a respeito do conhecimento empírico. Questões a seu respeito são quase tão antigas quanto a própria filosofia e, especialmente desde século XX, com o surgimento das ciências cognitivas, tal como as conhecemos hoje, a percepção também tem sido alvo de intensos debates no campo científico. No campo filosófico, a percepção possui um papel chave em assuntos referentes à justificação das crenças empíricas, pois diferentes compreensões a respeito dela levam a diferentes concepções sobre como estar adequadamente justificado a respeito de uma dada crença ou hipótese empírica. Nesse cenário, uma importante tarefa da epistemologia é julgar, analisar e compreender o papel da percepção na justificação das crenças empíricas. Diferentes abordagens epistemológicas possuem diferentes teorias da percepção que visam explicar, entre outras coisas, a relação que as nossas capacidades perceptivas possui com nossas crenças, a natureza da percepção – isto é, o que constitui a percepção –, como a percepção nos coloca em contato com o mundo. No decorrer da presente investigação, identificamos duas abordagens centrais, tradicionais, no que concerne às teorias epistemológicas da justificação: (a) fundacionismo e (b) coerentismo. Ambas as abordagens possuem compreensões diferentes do papel da percepção, com implicações profundas para suas respectivas capacidades de oferecerem respostas aos problemas classicamente associados a elas. Fundacionistas tendem a se basearem em teorias representacionistas da experiência perceptual, notadamente da “teoria dos dados dos sentidos”. Coerentistas, por outro lado, tendem a defender abordagens ditas “causais” da percepção. No geral, encontramos um cenário de aporia, com ambas as abordagens encontrando limitações sérias devido, sobretudo, à teoria da percepção subjacente a elas. Ao analisarmos as virtudes e os vícios dessas teorias, identificamos o potencial teórico em uma abordagem recente, alternativa às propostas tradicionais, que segue a tradição pragmatista peirceana, denominada “fundarentismo”. A partir do fundarentismo de Haack, defendemos a hipótese de que é possível encontrar uma resposta mais satisfatória ao problema da justificação das crenças empíricas, de modo a evitar as principais limitações das abordagens tradicionais (fundacionismo e coerentismo), mas preservando seus insights relevantes. Entretanto, encontramos dificuldades na teoria de Haack que precisam ser enfrentadas em futuras pesquisas.
Bruno Araujo Alencar; Heraldo Aparecido Silva | UFPI, Brasil
A crítica de Richard Rorty a Michel Foucault: uma perspectiva neopragmática
Esse trabalho tem o objetivo de apresentar a crítica do filósofo norte-americano Richard Rorty (1931-2007) ao filósofo francês Michel Foucault (1924-1984). Inicialmente, discutiremos como o neopragmatista tenta edificar a filosofia foucaultiana mostrando como o vocabulário adotado aparenta ser inadequado às práticas humanas atuais, visto que se concentra apenas em analisar a historiografia do passado, mostrando que a manobra do poder, exercido por certos tipos de democracia, como as liberais, impede o alcance da ética do cuidado de si, uma relação consigo mesmo (rapport à soi). Assim, o filósofo norte-americano utiliza-se de algumas ferramentas linguísticas para (re) descrever alguns aspectos do pensamento foucaultiano que tece críticas à democracia liberal. Entre tais técnicas ad hoc estão a apropriação, que tem o papel de conectar o filósofo francês com a causa neopragmática; e a recontextualização histórica, para ler a filosofia foucaultiana de forma inusitada, de modo que sua proposta filosófica se torne mais atraente para a política cultural. Para Rorty, o cuidado de si vai ao desencontro de sua utopia solidária, pois Foucault só projeta as ideias do ironista, adotando vocabulários privados e não compartilhados, preocupado somente com sua autocriação, ficando distante do liberal, que por sua vez, adota vocabulários públicos e compartilhados, e, que considera a crueldade entre os seres humanos a pior coisa a se fazer. Para Rorty, Foucault deveria ser (re) descrito para ser útil para a esperança social, de acordo com o ironista liberal, pessoas que oscilam entre os desejos de perfeição privada e justiça social, sem ferir outras pessoas. Tal contexto de perfeição privada só remete aos desejos de um poeta forte, um romancista com narrativas inúteis para a proposta de autocriação. Rorty faz uma redescrição do vocabulário foucaultiano no intuito de ter utilidade para a esperança social, ao passo em que se tornaria um filósofo edificante de sua utopia solidária.
Fabíola Ballarati Chechetto | PUC-SP, Brasil
Entre átomos e algoritmos: hábitos das interações para ver como o (des)contínuo aparece
Como o invisível que parece indivisível aparece ou se dá a ver? “Cientistas tiram melhor foto de átomos até o momento com ajuda de algoritmos” foi a manchete de um artigo no caderno de Ciência da Folha de S. Paulo em julho de 2021. Ao lê-lo, imaginei qual seria a reação de Demócrito, o último dos filósofos pré-socráticos, que há vinte e seis séculos, junto com seu mestre Leucipo, buscava descobrir o princípio gerador de todas a coisas (arché) pela racionalidade e não mais pelas narrativas míticas. Para esses expoentes pluralistas da Escola de Abdera na Grécia antiga, o átomo, que significa "indivisível" seria a menor parte possível de tudo o que há. Guardando os atomistas originários e voltando ao contemporâneo que preme pela atualidade da notícia, fato é que uma equipe de cientistas da Universidade Cornell (EUA) apresentou à comunidade científica e ao público, uma fotografia que, realizada com o auxílio de um microscópio eletrônico sem lentes e com um algoritmo avançado, apresentou a melhor resolução de um átomo. Ampliando em 100 milhões de vezes um mineral (cristal de praseodímio), foi possível “reconstruir a imagem a partir dos padrões resultantes da interação do objeto com um feixe de elétrons” (Batista, 2021). A emissão do feixe de elétrons foi fundamental para capturar “padrões” do objeto por meio da “interação” e uma vez capturados, os padrões foram “traduzidos” em imagens. Ora, sem entrar na especificidade físico-química do experimento, mas aproveitando o fenômeno para observar o que nos interessa para apreender uma epistemologia que se guia pela experiência e não o contrário, podemos nos perguntar: como os hábitos que aparecem nas interações entre naturezas da ciência (pensamento) e da matéria (mundo) fazem ver um contínuo que, pré-fenomenológico, seria aderente a um sentido ontológico do mundo, da experiência, da ciência e da vida? A Fenomenologia e o Pragmaticismo de Charles Sanders Peirce nos possibilitam elementos reflexivos para essa pesquisa com sua filosofia e lógica sobre as categorias da experiência, a mediação, a noção de tendência ao hábito e a doutrina do continuum, juntamente com os estudos peirceanos em Ibri (2015, 2020); ambos complementados pela tensão dialogante que arriscamos propor, fazendo a diferenciação epistemológica entre interação e mediação trabalhada por Ferrara (2015, 2018). Nesse sentido, a partir do estudo do fenômeno entrelaçado à questão levantada, é possível diagramar três níveis de análise: a) Para ver/fotografar o átomo, a técnica da ciência (logaritmo, com suas leis) precisou emitir um elemento da própria natureza (feixe de elétrons) para interagir com outros elétrons (dos átomos do objeto a ser visto). O resultado desse encontro de hábitos entre as leis do logaritmo e as regras do objeto mineral configuraram a possibilidade de visibilização dos padrões ou regras de conduta do objeto (hábitos), no qual real e ideal coabitam. O elétron parece ser a chave “comum” (o mesmo) que possibilitou a interação e consequente visualização desses hábitos - não do átomo em si, mas a partir do que derivou daquela interação entre hábitos; b) Reconstruir uma imagem de um elemento substancial da natureza, que é microscópico, leva a perceber inferências subjacentes a essas interações; c) Essas inferências, a serem trabalhadas como conjecturas de novas inferências, relativizam a eficácia de uma discretização em “leis” e “meios”, pois as interações, ao entrarem no jogo, indiciam uma das qualidades mais inapreensíveis do contínuo: o acaso em movimento. De sorte que se a “tradução” desses padrões habitudinários da mente-matéria em imagem técnica é da ordem das generalizações, ou seja, de um terceiro que faz “mediação” entre um primeiro (possível, contínuo) e um segundo (que reage), e só se fez factível por meio da “interação”, acontecimento que podemos não perceber, embora constitutivo para “ver” e “conhecer”, como o contínuo aparece, através do descontínuo?
Otávio de Lima e Silva | UFMS, Brasil
A chamada "crise da representação" na linguagem na filosofia contemporânea do século XX: reflexões a partir do pragmatismo de C. S. Peirce
Nesta comunicação, apresentaremos as linhas gerais da filosofia peirciana, utilizando como base a obra "Kósmos Noetós" de Ivo Ibri e os "Collected Papers" de Charles S. Peirce. A partir da Semiótica de Peirce, seus fundamentos e suas categorias, analisaremos o tema da crise da representação na linguagem na filosofia contemporânea eclodida sob o influxo de vários filósofos após a morte de Peirce em 1914, passando por Foucault até culminar em Derrida, um dos principais defensores dessa crise. Entre os comentadores de Peirce trabalhados, usaremos principalmente Nöth como linha de condução do tema contra as teorias defensoras da suposta crise e salientaremos a ontologia realista peirciana como fundamento filosófico contra as bases nominalistas que alicerçam as teorias pós-estruturalistas dos autores francófonos. No século XX, abriu-se um campo muito rico para atuação de uma ciência nascente e muito profícua, a semiótica, em especial, a Semiótica peirciana, como ferramenta de leitura e análise dos signos. Muitos são os filósofos, após Peirce, que anunciam uma “crise da representação” na linguagem, como Heidegger, Lukács e Lyotard. Outros autores, com menos ênfase, apresentam uma “perda da representação”, como Foucault em sua obra "As palavras e as coisas". Nesta obra, Foucault se debruça na história do conhecimento forjando uma “arqueologia do saber”, identificando uma ruptura nos modelos sígnicos ternários, que passam a ser diádicos a partir de Port-Royal (XVII-XVIII), até o estruturalismo de Saussure no século XX. Sob o ponto de vista foucaultiano, a representação, nos moldes tradicionais, entra em crise, deixando de ser especular — no sentido de refletir uma descrição da natureza — e passa a ser estrutural, visando analisar os elementos internos da constituição da língua, quebrando o vínculo entre signo e realidade. No entanto, há teorias mais radicais, como a desconstrução da representação em Derrida. A teoria de Derrida defende uma impossibilidade da re-presentação em Husserl como reprodução da apresentação ou presentificação. Defende também uma crise da representação na semiótica de Peirce, mais precisamente, em sua semiose ilimitada. Faremos uma análise crítica do caso de Derrida à luz da semiótica de Peirce, no intuito de expor um dos desenvolvimentos posteriores do pensamento peirciano sobre este problema.
Marco Antonio Conceição; Heraldo Aparecido Silva | IFPI, Brasil
Filosofia como “utopia liberal” em Richard Rorty
Filosofia como “utopia liberal” em Richard Rorty traz como tema a proposta rortyana de uma filosofia socialmente mais efetiva apresentada em sua obra Contingência, Ironia e Solidariedade (1992). O objetivo da comunicação é destacar na referida obra, o percurso filosófico através do qual o filósofo defende o caráter contingente da linguagem e sugere a possibilidade de uma filosofia como “utopia liberal”, calcada na figura do filósofo como “ironista liberal” e voltada para a “solidariedade humana”. O conceito de utopia, comumente compreendido como descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade, quando associado ao termo liberal, adquire na filosofia de Rorty, um caráter mais realista e possível de ser atingido a partir do poder das formas narrativas, mais eficaz que o de formas discursivas teóricas. Filósofos como Hegel, para Rorty (1992), nos ajudaram a uma “viragem historicista”, pois promoveram uma substituição da verdade pela liberdade que teve continuidade nas filosofias de Dewey e Habermas. Outros filósofos, entretanto, como Heidegger e Foucault, também foram muito importantes e a partir de uma visão da socialização como antiética, que segue a linha de compreensão do filósofo Nietzsche, constituíram um segundo grupo que primava pelo “desejo de autocriação, de autonomia privada.” (RORTY, 1992, p. 16). Nessa perspectiva, na medida em que um grupo propõe “uma vida humana autocriada e autônoma”, o outro grupo propõe “o esforço para tornar as nossas instituições e práticas mais justas e menos cruéis.” (RORTY, 1992, p. 16). Trata-se de dois grupos inconciliáveis e a oposição entre eles só poderia ser pensada “se houvesse uma perspectiva filosófica de maior grau de compreensão que nos permitisse abarcar a autocriação e a justiça, a perfeição privada e solidariedade humana em uma única visão.” (RORTY, 1992, p. 16). Para Rorty (1992), não foi sem razão, que o romance, o docudrama, o filme, o programa de televisão, entre outras formas narrativas, mesmo que de forma lenta e gradativa, vieram com o passar do tempo a atrair mais atenção que o sermão e o tratado. A solidariedade humana é, para o filósofo, uma tarefa para gêneros e não para teorias, que alcançam de maneira mais real que as últimas, a missão de ver outros seres humanos como um de nós e não como eles.
Izabel Maria Gomes da Paz; Heraldo Aparecido Silva | UFPI, Brasil
Filosofia para a esperança social: uma redescrição de Rorty
Este trabalho tem como objetivo apresentar aspectos da filosofia do neopragmatista Richard Rorty, a partir de sua crítica às questões da filosofia tradicional, para a prática de uma filosofia voltada para a esperança social, a partir de aspectos desenvolvidos por ele, como a criação da solidariedade através das redescrições imaginativas. Para a proposta deste trabalho reunimos argumentos para embasar teoricamente as questões apresentadas. Assim, realizamos o diálogo entre as obras de Rorty que tratam dos aspectos desenvolvidos por ele, tais como, a crítica da racionalidade como capacidade distintivamente humana, questões desenvolvidas historicamente pela filosofia tradicional e a construção da solidariedade através das redescrições imaginativas. Então, levantamos os argumentos presentes nas seguintes obras do filósofo norte-americano: Contingência, Ironia e Solidariedade (1989), e nos capítulos Direitos humanos, racionalidade, sentimentalidade e Diferença cultural, de Verdade e Progresso (1998) e no capítulo Pragmatismo e Romantismo de Filosofia como Política Cultural (2007), aspecto da crítica sobre o pensamento de racionalidade, crueldade e construção de solidariedade e esperança social. Inicialmente, apresentaremos a concepção rortyana de crueldade e suas possibilidades de afetação e abrangência, visto que ela vai além da dor física causada a outra pessoa, pois ser cruel não é um ato isolado de pessoas consideradas desumanas, mas algo passível de ser praticado por qualquer um de nós. Nesse aspecto, apresentaremos a visão crítica de Rorty sobre a suposição da existência de uma natureza humana a-histórica, articulada com o tema da racionalidade. Pois Rorty durante essas obras sugere deixarmos de nos questionar sobre quem somos nós? Ou qual a natureza humana? Para propor, alternativamente, ideias e questionamentos acerca de que mundo deixaremos para as gerações futuras? (RORTY, 2005a). Sugerindo então uma redescrição da filosofia e das questões filosóficas, e dando menos interesse no que se refere as questões da natureza humana a-histórica, pois a medida que percebemos a maleabilidade humana nos contextos históricos perdemos o interesse por tais questionamentos. E assim, priorizando a imaginação e progresso dos sentimentos. Tendo assim o progresso dos sentimentos como sendo uma habilidade crescente de enxergar as similaridades entre nós mesmos e as pessoas diferentes, com realidades diversas, como mais importantes do que as diferenças, como sendo o resultado de uma educação sentimental. Então, apresentamos segundo a perspectiva rortyana, como nós podemos passar a ver o outro como um de nós, através da capacidade imaginativa e redescritiva, inspirando prática da solidariedade humana para, desse modo, evitar a crueldade. Através da redescrição imaginativa, como a capacidade de utilizar-se de ruídos e sinais dando origem a práticas sociais maiores e melhores.
Palavras-chaves: Redescrição. Rorty. Narrativa. Esperança Social. Sensibilidade.
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 6
11/11/2021 - quinta-feira
15h30 -17h45 | Horário de Brasília
Sessão de comunicações 6
Semiótica e Epistemologia
Sonia Cristina Bocardi de Moraes | Unesp - Marília, Brasil
Interpretante normal, forma e informação
A informação é aqui considerada um processo de relações, seja na transmissão dos signo para que haja comunicação, seja nas relações estabelecidas num processo de significação. A relação de causalidade e significação, sendo um processo dinâmico, evolucionário na concepção peirceana, parte de uma forma enquanto sistema de signos que se organiza em um processo e evolui em um interpretante. O signo que gera interpretante e este interpretante que se torna ele mesmo um signo que prossegue a significação, baseado na maneira de ter atenções diversas sobre o mesmo tema, em sequências diferentes, porém relacionadas, e tem-se o caminho para a hipótese. Nesta transformação do signo em interpretante aquilo que é apresentado pode ser tomado enquanto uma abdução. O frescor da novidade em uma hipótese venha do interpretante emocional ou energético, carrega a abdução na continuidade do processo lógico buscando um Interpretante Normal, como descrito para lady Welby , com vistas a um interpretante final. O interpretante Normal está no período de articulação entre o interpretante imediato, ou aquele interpretante que, pelos sentidos, fornece informação para a sequência lógica de entendimento que sempre está aberta a novas significações, na indeterminação de um possível interpretante final, sempre por vir, sempre mais adiante. A passagem da primeiridade para a terceiridade é mediada pela ação de conferência de significado. Ação que é possibilitada pela força bruta, pela existência concreta da secundidade, e fornece a generalização do conceito pertencente à terceiridade, marcando então a forma reconhecida a partir da qualidade em primeiridade. E neste sentido o encadeamento e passagem de primeiridade e terceiridade relaciona pelas qualidades admiradas, e então percebidas, aquilo que sucinta elementos passíveis de representação. Tomar forma implica na continuidade entre realidade e existência, no processo informacional que molda o interpretante em sua potência de terceiridade, vinda da possibilidade oferecida pela qualidade em primeiridade. A atribuição de significado que determina a continuidade do interpretante em um processo evolucionário, no entanto, implica no critério de verdade e no julgamento ético no processo de significação, usando o bem que estético pode ou não ser obtido. Portanto, a semiose oferece informação verdadeira atrelando a ação de mediação do signo ao processo em busca da verdade, proporcionado pelo método pragmático. Neste sentido, a antecipação dedutiva do processo que confere significado pela ação informa. A atribuição de significado sendo proposicional implica em tratamento lógico, e a qualificação dos signos referentes ao processo, no qual necessidade e contingência articulam o processo dedutivo que confere realidade àquilo que é existente, ocorrendo enquanto fenômeno individualmente. A função do signo independente do substrato material ou da forma é levar a informação, ou seja, desencadear a mediação que pode ou não se tornar verdadeira, pode ou não ser falível. O fato de por alguma maneira desencadear a relação considerada então informação, certamente será um processo semiótico. A questão colocada por Peirce é que tudo aquilo que chega ao nosso conhecimento passível de ser informação é realizado por meio dos signos. Realidade e existência acontecem simultaneamente na formação do interpretante ao serem transmitidas pela materialidade, a ação e reação da secundidade, a formação da representação na terceiridade. O propósito conduz o processo, a ação mediante a expectativa norteia a ação produzindo tanto aquilo que é esperado, tanto com abertura ao acaso. É possível determinar o entendimento de informação enquanto um interpretante normal, que está formalizado num hábito, analisado no seguinte argumento: Informação é a passagem de realidade para existência. A checagem factual de maneira científica permite a consideração verdadeira através da significação em um procedimento lógico que pode, cientificamente, comprovar a verdade demonstrada dedutivamente e indutivamente.
Maria Alejandra Madi | PUC-SP, Brasil
Mercados, signos e crenças: uma abordagem semiótica e pragmática à luz do Realismo de Charles S. Peirce
De acordo com a contribuição filosófica de Charles S. Peirce, uma perspectiva semiótica e pragmática dos mercados enfatiza a influência das instituições econômicas como mentes sociais que influenciam crenças e ações. Considerando uma semiótica de orientação filosófica, o objetivo desta contribuição é explorar o significado da circulação de signos no contexto de uma abordagem ontológica e epistemológica dos fenômenos de mercado. Ao pensarmos o mercado sob o Realismo de Peirce, podemos aventar que sua representação geral é uma mediação para a compreensão da realidade econômica em que as questões sociais, culturais e institucionais não podem ser desconsideradas. Em vista disso, é factível dizer que a evolução do mercado é afetada por múltiplas decisões decorrentes de mediações semióticas dos agentes. Nessa linha interpretativa pode-se aventar que a interação participativa dos interpretantes lógicos e emocionais condiciona a representação geral e, portanto, a ação. Assim sendo, cabe indagar: como se manifesta fenomenologicamente a incidência da Primeiridade no comportamento do mercado capitalista? Qual a relevância das interpretações que não se referem a hábitos lógicos? Como incorporar os interpretantes emocionais, isto é, os qualissignos? Pode-se pensar em um crescimento das interpretações inscritas na rede de signos icônicos e indiciais no sentido de se tornarem mediações genuínas? Para avançar na compreensão do alcance dos interpretantes emocionais em cadeias semióticas, “vida” e “experiência” são conceitos filosóficos axiais. Pode-se então indagar: como incorporar os interpretantes emocionais, os qualissignosa uma análise semiótica e pragmática do mercado? É lícito afirmar que a categoria fenomenológica da Primeiridade se manifesta à consciência de modo imediato e diz respeito a emoções variadas, tais como alegria, tristeza, raiva, entre outras qualidades de sentimentos. As emoções que acompanham a percepção e a ação têm uma intencionalidade ancorada em crenças, desejos, expectativas e medos, por exemplo. Em verdade, tais emoções se relacionam com um modo singular de Existência. Em vista disso, as emoções entendidas como interpretantes são signos de Primeiridade que afetam a tomada de decisões. Peirce realça que as emoções, entendidas como interpretantes imediatos, fazem parte do processo semiótico, embora não possam ser confundidas com conceitos. A esse respeito, Ibri destaca que os interpretantes emocionais dialogam semioticamente como signos que representam a Primeiridade dos fenômenos. Com efeito, no processo semiótico, temos acesso indireto aos objetos por meio da construção de mediações nas quais os aspectos emocionais não podem ser ignorados. Conclui-se que, sob o Realismo de Peirce, uma leitura da circulação dos signos no mercado requer a consideração da categoria da Primeiridade, fenomenológica e ontológica, e sua articulação com a Semiótica e o Pragmatismo, dado que as qualidades de sentimento, emoções, percepções e juízos imediatos não podem ser negligenciados no estudo das crenças e ações que atualmente favorecem o imediatismo nos negócios e a precaridade na sociedade.
Juliana Rocha Franco; Priscila Monteiro Borges | UEMG, UNB, Brasil
Algumas consequências pragmáticas para a ordem de determinação dos objetos na semiótica tardia de Peirce
Entre as muitas questões ainda em aberto com relação à teoria estendida dos signos de Peirce (desenvolvida em sua maturidade, depois de 1905 e mais especificamente em 1908-9), está o problema da ordenação das tricotomias. Uma decisão apropriada a respeito da ordem das tricotomias demanda uma discussão de todo o processo semiótico, pois envolve a ordem de determinação entre seus termos: o signo, seus objetos e seus interpretantes. No presente artigo, abordaremos apenas uma parte desse processo, que diz respeito à relação entre o signo e seus objetos. Ao desenvolver a noção de objeto, subdividindo-o em imediato e dinâmico, Peirce passa a considerá-los como aspectos a serem considerados na definição das classes de signos, propondo as tricotomias do objeto dinâmico e do objeto imediato. A introdução dessas duas novas tricotomias, por sua vez, acarreta um problema, já que agora é preciso determinar a ordem em que ordem elas devem aparecer, se antes ou depois da tricotomia do signo em si. Opiniões divergentes a respeito desta ordenação são encontradas tanto nos textos de Peirce, que ora apresenta as tricotomias dos objetos primeiro, ora a do signo em si primeiro, quanto nos textos de seus comentadores (Weiss e Burks 1945, Lieb 1953, Sanders 1970, Savan 1977, Farias e Queiroz 2003, Borges 2010, Jappy 2019). Investigaremos esse problema não apenas discutindo as definições dos conceitos de signo, objeto dinâmico e objeto imediato, mas buscando uma espécie de esclarecimento pragmático da questão, apresentando uma reflexão sobre as consequências filosóficas e semióticas das diferentes propostas de ordenação dessas tricotomias apresentadas até hoje. A relação de determinação entre signo e objeto nos leva, por exemplo, a discutir o caráter ontológico do objeto dinâmico. Posicionar o objeto dinâmico depois do signo em si pode até ajudar a explicar o funcionamento de signos da ficção, criados pela imaginação, mas até que ponto essa ordem é condizente com a filosofia de Peirce? Não haveria uma explicação possível para os signos ficcionais se a ordem adotada for do objeto para o signo? Por outro lado, seria possível falar de signos que mentem, se todo objeto fosse determinado pelo seu próprio signo?
Francisco Dário de Andrade Bandeira | UFC, Brasil
Possíveis convergências entre uma epistemologia pragmatista e a filosofia da informação
A definição de conhecimento herdada da tradição era apresentada em termos de crença verdadeira justificada. No entanto, desde a década de 1980 foi argumentado que o conhecimento poderia ser definido em termos de crença baseada em informação, especialmente nas informações advinhas das experiências de percepção direta. Nesse contexto, emergem abordagens que passam a levar em conta a noção de informação como um componente central para a constituição do conhecimento. Multiplicam-se também os estudos para entender ainda mais o que é informação, especialmente porque além de ela ser capaz de gerar conhecimento, é, inequivocamente, uma noção que vem sendo usada de modo amplo nas diversas ciências. Ainda que tal uso comumente careça de maior clareza ou definição. Por sua vez, o pragmatismo entende o conhecimento como associado a ação humana cujo fim não consiste tanto em representar passivamente a realidade mediante ideias quanto em organizar e interpretar a experiência de modo que essa ação possa progredir. Nessa abordagem, o conhecimento é inseparável da valoração, na medida que todo juízo, incorpora em si, não uma pura descrição do real, mas diversas possibilidades de interação prática com ele. Uma epistemologia pragmatista pode ser organizada a partir das seguintes distinções: a. atitude naturalista; b. primazia da prática; c. empirismo; d. falibilismo; e. anti-fundamentalismo; f. inmanentismo. No âmbito das relações aqui exploradas, subjazeria ao pragmatismo o apelo a diversos modos de ocorrência (p.ex. informação material, semântica, social, etc.) da informação associadas à geração de conhecimento, ainda que isso possa ocorrer em muitos casos de maneira implícita ou não conceitualizada. No contexto dos estudos sobre a informação, argumenta-se que uma nova abordagem filosófica de cunho onto-epistêmico e estruturante sobre a informação pode ser útil ao pragmatismo epistêmico, na medida que pode oferecer propostas de compreensão das diversas dimensões das experiências e ações humanas associadas à geração de conhecimento baseado em informação. Essa abordagem informacional parte de questões e aspectos materiais da informação, movendo a seguir, para dimensões semânticas e sociais da informação. Poderá emergir um quadro teórico informacional de natureza estruturante baseado no uso que diversas ciências fazem da noção de informação. Diante da possibilidade desse avanço, serão apresentadas então algumas convergências entre uma abordagem filosófica da informação e uma epistemologia pragmatista.
Patricia Fonseca Fanaya | UFSC, Brasil
“E se?”: a imaginação que movimenta nossa própria racionalidade
A imaginação é uma faculdade essencial para o desenvolvimento de outras faculdades cognitivas, como raciocínio, memória, criatividade, linguagem, percepção, julgamento e pensamento. É fundamental para nossa capacidade de adaptação à vida no mundo, pois informa tanto nossas outras faculdades cognitivas quanto nossas funções executivas, a saber: tomada de decisão, elaboração de estratégias e solução de problemas em geral. Foi uma ligeira alteração em nossos algoritmos neurais que nos permitiu moldar o mundo à luz de nossa imaginação, impulsionando a espécie em sua trajetória imparável, conta-nos o neurocientista cognitivo David Eagleman. Curioso, porém, que por tanto tempo a importância do papel da imaginação para o processo inferencial tenha sido minimizada ou negligenciada. A negligência em olhar para a imaginação como um objeto legítimo de investigação deve-se ao fato de ela ter sido, em grande parte, desligada da razão. Assim, a imaginação tornou-se a faculdade cognitiva relacionada às artes, e a razão a única adequada para o raciocínio. Considerando que, quando nos perguntamos "e se" trazemos uma hipótese à luz — e seu surgimento é em grande parte o resultado de nossa imaginação, pois está dentro do reino das possibilidades imaginadas e ainda não faz parte da realidade do fatos comprovados — é o raciocínio que nos permite controlar conscientemente o processo inferencial (CP 2.119-218, 1902). É por meio do raciocínio, que é alimentado pela própria imaginação, que podemos transformar uma hipótese em conhecimento justificado. O objetivo desta comunicação é enfatizar a perspectiva de C. S. Peirce sobre a imaginação e destacar como ele demonstrou que imaginar é uma ação própria do pensamento que informa e às vezes até orienta nossa racionalidade. Para isso, os seguintes referenciais teóricos serão mobilizados: C. S. Peirce, Susan Haack, Jim Davies e David Eagleman.
Tomas Rodolfo Drunkenmolle | PUC-SP, Brasil
Análise das teorias sobre o caráter epistêmico e heurístico das metáforas à luz da semiótica e do pragmatismo de C. S. Peirce
Na literatura atual, a metáfora é tratada como um caso de comparação implícita ou como uma declaração não literal de inclusão de classe. Enquanto os filósofos concordam que a falsidade patente geralmente se evidencia nos casos em que a metáfora é interpretada literalmente, eles discordam em relação ao seu caráter proposicional. As diversas abordagens da metáfora são consistentes com as respectivas teorias do significado nas quais estão baseadas, e persuasivas em seu respectivo escopo. Apesar de parecerem contraditórias, não as tratamos como mutuamente excludentes, mas, sim, como abordagens complementares. Essa síntese pressupõe que reconhecemos como aceitável a ideia de que existe um ciclo vital para esses tropos. Argumentamos que a justaposição da noção de significado literal com a noção de significado metafórico como disjunção exclusiva, é mal orientada, na medida em que ambas fazem parte do mesmo ciclo vital das metáforas e onde ambas constituem uma parte integral do sistema dinâmico entre os significados literal e figurativo desses tropos. Argumentamos que uma das funções da metáfora é a acomodação da linguagem natural a um mundo em transformação que nos permite pensar em coisas novas, apesar de nosso recurso linguístico estar limitado. Os motivos mais proeminentes para recorrer ao uso metafórico da linguagem podem ser encontrados na educação, onde a metáfora atende a uma função heurística, e em atividades científicas onde ela atende à função epistêmica na medida em que propiciam a compreensão da aquisição do conhecimento radicalmente novo. Sob o ponto de vista epistêmico e heurístico, iremos nos valer dos preceitos teóricos do Pragmatismo e da Semiótica de C. S. Peirce (1839 – 1914) para justificar as metáforas como deslocamentos semânticos sob as relações de hierarquia entre os interpretantes – signos que interpretam – de natureza emocional e lógicos.
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 7
11/11/2021 - quinta-feira
18h -20h15 | Horário de Brasília
Sessão de comunicações 7
Semiótica e Sociedade
Johnny Marques de Jesus | PUC-SP, Brasil
Semiose pragmática da democracia deliberativa
Neste trabalho, pretendo investigar a natureza da dinâmica deliberativa pública em termos de semiose pragmática. Parto da aplicação, por Misak, do pragmatismo peirceano à democracia deliberativa. A epistemologia do discurso democrático se fundamenta, portanto, num processo social de aprendizagem de resolução de conflitos mediado discursivamente por uma comunidade de investigação falibilista. Na ação comunicativa, a deliberação pública, partindo, via Rawls, de condições discursivas e procedurais de igualdade, liberdade e razoabilidade/racionalidade (da pessoal moral) descritas na Posição Original, desenvolve o entendimento mútuo pelo jogo das argumentações e contra-argumentações, contra-balanceando razões públicas para a construção do equilíbrio reflexivo de um acordo público e revisável sobre princípios e normas de cooperação social. A verdade ou validade do acordo mútuo resulta da força democrática do melhor argumento. Por outro lado, Frank Fischer, bem como Michael E. Morrell, ressaltam que processos afetivo-morais são elementos fundamentais que compõem a dinâmica do discurso democrático, juntamente com a deliberação pública argumentativa (e correlata ética do discurso). Visando analisar os princípios dessa dinâmica do discurso democrático, segundo sua composição cognitiva e afetivo-moral unificada sistemicamente, procurarei correlacionar a epistemologia da comunidade de deliberação pública e a semiótica tensiva de Zilberberg e Fontanille, segundo a teoria da semiose emergente de El-Hani & Queiroz (2005). Assim, a dinâmica de equilíbrio reflexivo do discurso democrático será concebida como uma semiose emergente e diálógica (Cf. Linell, Douglas Walton) de um acordo mútuo, entendido como um espaço lógico de razões públicas convergentes, falíveis e argumentativamente justificáveis, e também como espaço intensivo e extensivo de valências imanentes à temporalidade dos discursos, ambos os espaços constituindo um espaço-tempo social lógico-tensivo, que fundamenta o processo de escolha racional condicionalizada ou limitada (Cf. "bounded rationality" ou "bounded social decision-making") acerca dos princípios e normas da cooperação social (portanto, não parto da teoria da escolha racional que opera na Posição Original de Rawls). Rescher (2017) possui um termo apropriado para caracterizar essa equilibração da semiose democrática: complementaridade valorativa processada na escolha racional, a partir de uma resolução de tensões aspectuais (aspectival tensions).
Eliane Aparecida Dorico Washington | PUC-SP, Brasil
A importância da semiótica peirceana para o processo de incidência no Direito Positivo e suas dimensões sintáticas, semânticas e pragmáticas
Para os propósitos deste trabalho, será utilizada a semiótica para estudar a incidência sobre três “dimensões”. Para simplificar os três ramos da semiótica estabelecidos por Peirce (teoria geral dos signos, lógica crítica e metodêutica), serão utilizadas as conhecidas divisões estabelecidas por Charles Morris entre Sintaxe, Semântica e Pragmática. As divisões de Morris mantêm uma analogia com a relação entre Signo, Objeto e Interpretante. Assim, Sintaxe, ou dimensão sintáctica da semiose, que seria a relação entre os signos - aqui utilizaremos o termo “implica”; Semântica, ou dimensão semântica da semiose, que seriam as relações de signos aos objetos a que os signos se aplicam - aqui utilizaremos os termos designa e “denota”; e a Pragmática, em que o objeto do estudo pode ser a relação dos signos com os intérpretes, esta relação vai se chamar dimensão pragmática da semiose - neste caso, usaremos o termo “expressa”. Cabe à sintaxe estudar a relação dos signos entre si, desprovidos de suas respectivas significações. No sistema do Direito Positivo, a sintaxe ocorre pela relação das normas entre si. A semântica também dá sentido aos enunciados, entretanto, sob o enfoque da relação dos signos com os objetos que representam. É aqui que os problemas de vaguidade e ambiguidade podem ser amenizados; no Direito, é o campo de significações. Sob a dimensão pragmática, a incidência acontece em duas operações: a interpretação e a constituição da nova linguagem jurídica. Analisar a incidência sob o aspecto linguístico-semiótico possibilita, de certa maneira, a organização do conhecimento, além de confirmar que apenas por meio da intervenção humana pode ocorrer a linguagem, por meio da qual os ideais e sua exteriorização são garantidos, assim possibilitando que a norma possa incidir. Dessa maneira, a primordial função da norma jurídica consiste em incidir sobre os fatos da vida em sociedade para juridicizar, transformando em fato jurídico a parte que seja importante do seu suporte fático e tornando obrigatória a norma jurídica.
Palavras Chaves: Semiótica Peirceana, incidência tributária, Direito, sintaxe, semântica e pragmática.
Dionisio Moreno Ferres | PUC-SP, Brasil
A adaptabilidade dos hábitos
Estudos da adaptação humana apresentam questões funcionais que dentre outras questões, de fulcro antropológico de características biológica e comportamental, demonstram como os seres humanos superam as adversidades da vida nas interações com o meio. Nessa pesquisa utilizaremos apenas questões comportamentais que nos direcionam para um entendimento semiótico das mediações produzidas por essas interações e que resultam em hábitos. A adaptabilidade humana nesse sentido prático pode ser entendida como uma resposta comportamental que os seres vivos apresentam perante a existência com o propósito da sobrevivência em meio à alteridade. Esse processo que consideramos midiático e de comunicações intensas é estimulado em nosso organismo pelas interações midiáticas, comunicativas, de processos semióticos, produzindo sensações que afetam nossos comportamentos e, portanto, estabelecem e modificam hábitos. Essa proposta de leitura dialoga com outras vertentes investigatórias de fenômenos que são estudados pela antropologia e se desdobram para a nutrição, psicologia, antropometria, antropologia biocultural, dentre outros estudos científicos. Porém nossa proposta é de analisar os fenômenos dos hábitos por meio do pragmatismo originário das teorias semióticas de Charles Sanders Pierce. Nesse contexto proposto os fenômenos aqui analisados estão mais próximos das teorias organizadas pela antropologia da adaptabilidade humana, estudas em uma visão ecológica, conforme proposições de Emilio F. Moran. Assim sendo, nossa proposta tem por finalidade estudar o fenômeno dos hábitos como uma característica essencial da adaptabilidade. Sabemos que nada no mundo é estático. Todos os fenômenos são dinâmicos. O que observamos na verdade são sensações de estabilidade nas instabilidades da alteridade da vida. O ser e o estar no mundo são dinâmicos, porém as sensações produzidas por nossos sentidos nos apresentam uma visão fenomenológica de sensações de estabilidade, que nada mais é, do que, um ponto de equilíbrio que nosso organismo se habitua a ler no habitat sob uma leitura semiótica das leis que regem a natureza. Essa sensação de estabilidade das coisas nos da a possibilidade de proteção, propensão, projeção, predileção, previsão, precisão, ou seja, predicados para a nossa sobrevivência. Com isso entendemos que “existem três coisas que nunca devemos esperar através do raciocínio, a saber: certeza absoluta, exatidão absoluta e universalidade absoluta” de acordo com Charles Sanders Peirce, CP 1.141, (apud. Ibri, 2020).
Gabriel Engel Ducatti; Maria Eunice Quilici Gonzalez | Unesp - Marília, Brasil
Efeitos do digital na conduta: uma investigação à luz do pragmatismo
Inspirados na Máxima Pragmatista Peirceana, o presente trabalho surge com o intuito de esboçar uma possível caracterização pragmatista sobre a noção de “digital”. De certo modo, o mundo digital é o que possibilitou e vem possibilitando que, no atual contexto de pandemia, parte das relações humanas pudessem se manter a distância. Nunca estivemos tão interconectados, mas o fato de tais conexões serem digitais parece não impedir que a sensação de solidão apareça. Apesar de seu uso corrente, o termo digital nem sempre é expresso de maneira filosoficamente satisfatória; há tanto definições técnicas, que vinculam tal noção à ideia de dígitos binários, quanto de senso comum, que, por exemplo, concebem o digital em contraste com o físico. Não estamos aqui negando tais caracterizações, pelo contrário, as apreendemos como modos de expressão do conceito. Ressaltamos a crescente centralidade do digital para a promulgação das relações humanas contemporâneas e, nesse contexto, propomos esboçar uma caracterização do termo à luz da máxima orientadora da conduta científica na perspectiva Peirceana. Tal máxima, que começou a ser elaborada por Peirce em 1878 e continuou sendo elaborada até pelo menos 1905, surgiu a fim de estabelecer critérios de verificação experimental para o esclarecimento de conceitos. Nesse sentido, Peirce sugere que consideremos os efeitos que o objeto de nossa concepção podem concebivelmente ter sobre a conduta, de modo que a concepção desses efeitos seja a concepção do objeto. Partindo de uma análise filosófico-interdisciplinar em torno do digital, e considerando que as interações digitais às vezes podem não suprir a necessidade humana de se relacionar (num sentido não digital), propomos: em um primeiro momento, elaborar uma breve síntese de alguns pressupostos pragmatistas; apresentar algumas caracterizações do termo digital; ao fim, sugerir, de maneira provisória e aberta à discussão, uma interpretação sobre o termo à luz da máxima pragmatista. Os problemas que guiarão a nossa reflexão podem ser assim enunciados: (1) quais consequências pragmáticas na conduta podem ser extraídas quando na tentativa de esclarecer o conceito de digital? E (2) a internet e as redes digitais têm feito com que nos isolássemos, ficando cada vez mais sozinhos, ou estamos cada vez ficando mais sozinhos, nos isolando, e a internet e as mídias digitais têm se aproveitado disso para preencher “espaços” e “tempos” de nosso dia a dia? Adotando o falibilismo, discutiremos tais questões a fim de esboçar hipóteses provisórias, sem a pretensão de fornecer respostas prontas e definitivas.
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES 8
11/11/2021 - quinta-feira
18h -20h15 | Horário de Brasília
Sessão de comunicações 8
Lógica e Pragmatismo
Sarah Lindsay Botão de Oliveira Ferreira | UFG, Brasil
A instrumentalização da linguagem pela comunicação: limites da forma da sentença
Do ponto de vista da pragmática é comum conceber linguagem mediante a relação que ela tem com seus utentes. Nesse sentido, ergue-se uma semântica caracterizada como uma teoria da comunicação em que importa um conteúdo objetivo comum entre falantes sob o qual eles possam concordar ou discordar, ou seja, para que haja comunicação é primordial que se saiba que os falantes em questão versam sobre “o mesmo assunto”. Tradicionalmente na linguagem, entre os componentes das sentenças o termo singular que será incumbido da função de indicar o tema em comum numa interlocução: “sobre o que estamos falando?”, referindo-se ao objeto intencionado. Assim, o conceito de identificação dos objetos, dentro da perspectiva da teoria da comunicação, pressupõe na estrutura pré-linguística estruturas epistemológicas, pois exigirá que interlocutor deva ter a capacidade de identificarpara si o objeto intencionado na locução. Contudo, não fica esclarecida se a identidade dos objetos nomeados está totalmente disponível, pois não está esclarecido como nos referimos a este objeto fora da estrutura epistemológica do espaço tempo, tal como o caso dos números enquanto objetos matemáticos. Esta tendência à orientação por objetos que uma semântica caracterizada pela teoria da comunicação subjaz uma problemática: a instrumentalização da linguagem como instrumento de comunicação. Em que se almeja um solo comum entre os interlocutores, se um interlocutor pode comunicar a outro qual objeto ele se refere através de um termo singular, ou seja, pressupõem sem mais esclarecimento a referência a objetos a partir de termos singulares. Dentro da filosofia da linguagem essa questão toca os enunciados de identidades, visto que, a identificação “pra si mesmo”, ou seja, pressupondo estruturas epistemológicas, não parece se articular em enunciados de identidade onde dois termos singulares estão pelo mesmo objeto, posto que não há mais garantia que os interlocutores não podem mais identificar um solo comum de interlocução pelo emprego de um único termo singular que se refira ao objeto intencionado. Como é estabelecido então o significado de termos singulares? Grande parte desse problema reside numa literatura da filosofia analítica que limita-se a forma das sentenças enquanto unidade mínima de comunicação. Nesse sentido a instrumentalização da linguagem como instrumento de comunicação a pragmática ultrapassa essa limitação e traz a questão se faz sentido a formalização de experiências não linguísticas. Para mapear essa problemática utilizaremos as lições analíticas da linguagem de Ernst Tugendhat.
Renan Henrique Baggio | PUC-SP, Brasil
A pós-verdade aos olhos de Peirce: por um resgate realista dessa confusão
Com o crescente e desenfreado uso das redes, a veiculação de conteúdos digitais atinge proporções inimagináveis. Junto desse novo panorama comunicacional, os limiteis do crível, bem como a demarcação precisa entre o verdadeiro e o falso, são ofuscados pela parcialidade dos receptores que não mais fundamentam suas certezas através da investigação, mas por meio da trasmissão imediata e saturada de conteúdos. Nesse cenário, as bolhas de filtro, através da ação dos algoritmos, direcionam os usuários das redes com base nas preferências demonstradas por meio de sua conduta virtual. Ainda, é notável a forte influência das famigeradas fake news que proporcionam a manutenção de crenças previamente estabelecidas. Esses fatores somados fazem erigir o “império da pós-verdade”, no qual a noção de verdade, ainda que exista, não possui relevância alguma na análise dos fatos. Diante das possíveis consequências epistemológicas que tal posicionamento apresenta, este trabalho tem como objetivo reafirmar as concepções de realidade e verdade encontradas no pensamento de Charles S. Peirce e, ademais, mostrar como a noção de pós-verdade nega ou subverte, pelo menos, quatro aspectos fundamentais do realismo peirciano, quais sejam: a) alteridade e permanência do real; b) o princípio de longo curso da experiência; c) a possibilidade falibilista do erro; e d) a ideia de verdade como algo público. Como consequência, podemos afirmar que a pós-verdade não passa de uma sedutora ilusão, cujas bases pragmáticas se reduzem a um mero “faz-de-contas”. De modo a percorrer nosso objetivo, iniciaremos com uma caracterização da pós-verdade, fundamentando sua ação pelas dinâmicas das Bolhas e das fake news, bem como na transmissão de crenças por contágio, isto é, de maneira imediata e saturada por intermédio das redes. Feito isso, abordaremos o realismo peirciano de modo a buscar em seu escopo o fundamento para a noção de real e, consequentemente, os critérios para a verdade. Dessa abordagem, retiraremos os quatro pontos mencionados anteriormente e através deles, argumentaremos que a pós-verdade ou os nega, ou os subverte, mas, ao assim agir, compromete o alcance de suas narrativas que, ora ou outra, esbarram na dureza dos fatos e sucumbem à realidade mesma que buscaram ignorar.
Palavras-chave: Fake News. Pós-verdade. Realismo. Redes. Verdade.
Lucas Antonio Saran | PUC-SP, Brasil
A influência de James e Dewey sobre o monismo neutro de Russell
A partir da apresentação de On Propositions: What They Are and How They Mean, Bertrand Russell passou a se aproximar, cada vez mais, de um tipo de filosofia que o filósofo inglês chamou de "monismo neutro". Nesse contexto, passou a haver, para Russell, mais relevância no pensamento de James e Dewey. Assim, o objetivo deste artigo é verificar o quão grande é a influência de James e Dewey na construção do monismo de Russell. Para atingir esse objetivo, este trabalho será dividido em dois capítulos: o primeiro capítulo apresentará as principais características da filosofia de Russell (no que diz respeito ao monismo neutro); o segundo capítulo analisará as possíveis influências de James e Dewey no pensamento de Russell. É importante notar que, nesta situação, a influência de James (sobre Russell) parece mais proeminente: Russell, criticando ou analisando o "empirismo radical" (forma como os pragmáticos chamam o "monismo neutro"), costuma atribuir tal "empirismo" a James. Apesar disso, o filósofo inglês, falando sobre o "monismo neutro" nas famosas conferências sobre atomismo lógico (1918), também cita os Essays in experimental logic (de Dewey). Em consonância com isso, esta pesquisa insistirá em buscar conexões entre Russel e Dewey sem esquecer a importância de James; Realmente, no trabalho mencionado, Dewey fala sobre uma espécie de certeza relacionada a coisas como instinto e hábito. Essa forma de pensar parece muito próxima das reflexões de Russell sobre os hábitos ligados ao aprendizado das palavras (em The Analysis of Mind). É claro que não é possível identificar perfeitamente a abordagem russeliana com a de Dewey (ou mesmo de James), mas, certamente, é muito interessante perceber o caminhar dessa abordagem para um conjunto de teses filosóficas cada vez mais pragmáticas: Russell provavelmente preserva os projeto de uma filosofia alicerçada na análise, e na necessidade de reconstruir e eliminar alguns tipos de entidades; no entanto, algumas partes desse projeto são alteradas e enfraquecidas.
Rogério Bettin | PUC-SP, Brasil
Entre Nuvens e Relógios: determinismo e indeterminismo em Peirce e Popper
Esse trabalho tem por finalidade analisar os conceitos de determinismo e indeterminismo em Charles Sanders Peirce e Karl Popper, procurando partir dos principais pressupostos epistemológicos e ontológicos desses autores, dos quais se pretende mostrar serem derivadas duas concepções de mundo, ambas livres do determinismo clássico herdado dos períodos renascentista e iluminista. Tais concepções, acompanha uma visão hodierna de ciência que, no início do século XX, incorporou o caráter probabilístico em suas teorias e ontologicamente adotou o princípio natural do acaso. O trabalho pretende mostrar também, não apenas a proximidade entre os dois autores sob o foco geral da ideia de indeterminismo, mas acentua que ambos os pensadores apresentam um novo paradigma para o método científico; falibilidade em Charles Sanders Peirce e o falsificacionismo em Karl Popper, tais teorias vem a confirmar e justificar o posicionamento epistemológico a favor do indeterminismo físico desses pensadores, sustentando de que não existe verdades e certezas absolutas. Importante dizer que o texto chave que inspira esse trabalho é o ensaio “Das nuvens e dos relógios” que foi apresentado por Karl Popper em uma conferência em memória de Arthur Holly Compton apresentada na Universidade de Washington em 1965 e foi publicado 1972 em um capítulo da obra “Conhecimento Objetivo”. Nesta conferência Karl Popper para explicar o determinismo e o indeterminismo apresenta uma analogia “Das nuvens e dos relógios”, bem como, também, nesta conferência Karl Popper escreve que Charles Sanders Peirce foi o primeiro físico e filósofo depois do sucesso da teoria newtoniana a contestar o determinismo e defender a posição do indeterminismo físico. A esse respeito podemos observar que o físico e filósofo americano, Charles Sanders Peirce, não coadunou com a tendência ou crença científica de sua época, sendo quase unanime o determinismo físico entre os filósofos e físicos neste período. Assim, podemos observar o indeterminismo em Charles Sanders Peirce que mesmo contrariando a crença científica de seu período, compreendia que todos os relógios e por mais precisos que pudessem ser, haveria nesses relógios algum grau de anuviamento.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia
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