Resumos das conferências - 20ºEIP

RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS


CONFERÊNCIA DE ABERTURA DO 20º EIP


08/11/2021 - Segunda-feira

14h30 - 16h30  | Horário de Brasília


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Nythamar de Oliveira | PUC-RS, Brasil

Revisitando o pragmatismo político: Rawls, Dewey, Bernstein


Ao posicionar John Dewey entre John Rawls e Richard Bernstein, defendo uma leitura socialista das interpretações de Dewey pela democracia liberal que se afasta tanto das leituras conservadoras de Dewey daqueles que afirmam que seu liberalismo democrático realmente pertence a uma visão de direita ou central, quanto de comunitários de esquerda, que rejeitam tais visões como irrelevantes para as variantes socialistas e radicais da democracia liberal. Em geral, pode ser demonstrado que as diferentes interpretações de Rawls e Dewey sobre o liberalismo político poderiam ser reconciliadas, dadas suas interpretações semelhantes sobre a democracia, o pluralismo e a pessoa. A própria reabilitação de Rawls de Kant pode ser mostrada como intimamente relacionada com sua leitura de Dewey. Além disso, como Bernstein argumenta, tal renovação da filosofia social e política de Dewey no construtivismo político e equilíbrio reflexivo de Rawls foi decisiva para a grande virada pragmática observada na segunda, terceira e quarta gerações da teoria crítica, não apenas na chamada Escola de Frankfurt (esp. Habermas, Honneth, Forst), mas também em pensadores feministas e descoloniais como Nancy Fraser, Seyla Benhabib, Judith Butler, Rahel Jaeggi e Amy Allen. A volta pragmática de Dewey na filosofia política permite, assim, uma correlação dinâmica e robusta entre democracia radical e educação pública, que poderia ser implementada em democracias emergentes como o Brasil.

[Versão para o português de Tomas Dunkenmolle | PUC-SP, Brasil]


SESSÃO DE CONFERÊNCIAS 2


09/11/2021 - Terça-feira   

14h - 16h15 | Horário de Brasília


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Jaime Nubiola  | Universidad de Navarra, España   

Compreendendo e ensinando o pragmatismo: "Pelos seus frutos os conhecereis"


Não é fácil explicar o que é pragmatismo. Todos que tiveram que ensinar pragmatismo a estudantes universitários se viram em uma situação difícil tentando fazer uma exposição clara. Além disso, não foi fácil para o próprio Charles S. Peirce explicar de maneira simples a máxima pragmática. Nesta contribuição, não entrarei nos detalhes técnicos da máxima pragmática, mas compartilharei os frutos da minha reflexão de muitos anos sobre como o pragmatismo pode ser mais facilmente compreendido e ensinado.  A palestra está organizada em duas partes: a primeira é dedicada à velha regra lógica do evangelho, "Pelos seus frutos os conhecerei", que aparece em dois textos de Peirce; e a segunda ao que chamo de "lógica da cozinha", na qual prestarei atenção também ao exemplo de Peirce da torta de maçã. Acrescentarei uma consideração final sobre como ensinar filosofia hoje, segundo Peirce.

[Versão para o português de Renan Baggio   PUC-SP, Brasil e Tobias Faria   PUC-SP, Brasil]



André De Tienne | Indiana University Purdue University Indianapolis, USA   

Metafísica semiótica como exelíctica heurística


O velho dualismo entre epistemologia e metafísica está morto. Sua desunião levou durante muito tempo a uma sucessão de aporias conectivas, ao mesmo tempo engenhosas e dissimuladas. Peirce quase nunca usou a palavra “epistemologia”, embora tenha sido um dos primeiros “cientistas cognitivos” como os rotulamos atualmente. A principal razão estava em sua conclusão inicial de que cognoscibilidade e ser eram termos sinônimos. Tudo que é real é pesquisável e, em última análise, explicável se os métodos em uso não se basearem apenas em estruturas simbólicas artificiais. Essa ideia implica que o que quer que o real seja, ele será feito, em princípio, de matéria experimentável e inteligível, direta ou indiretamente. O real, portanto, nunca é um “dado”; é antes um questionamento ativo. O real não é apenas o que determina, mas também o que impele a investigação. Não exige crença, entretanto, pois crença não é investigação, nem mesmo o fim da investigação (como objetivo ou término). A questão é se o real é ele próprio uma investigação em ação. Nas últimas três décadas, várias classes de cientistas, incluindo físicos e biólogos, tomaram suficientemente conhecimento da semiótica, seja das tradições europeias ou americanas, para reconhecer que embutidas em tais teorias estavam lógicas que pareciam ser aplicáveis em suas próprias disciplinas. Isso foi sobretudo evidente em cientistas que se voltaram para a lógica semiótica de Peirce, não apenas porque o próprio Peirce era um cientista, um matemático e um lógico (ao contrário dos irmãos europeus), mas porque seu trabalho entendia especialmente bem a lógica da pesquisa científica. As teorias de Peirce sobre as três classes de inferências, isto é, abdução, dedução e indução, tinham a vantagem crucial de iluminar e corrigir os próprios métodos em uso nas ciências – e por muito tempo esse foi seu principal reconhecimento. Mas, pouco a pouco, cresceu uma consciência complementar, a consciência de que os objetos visados pela investigação se revelaram altamente sensíveis à investigação. Isso se tornou particularmente importante na mecânica quântica. A sensibilidade à investigação significava várias coisas, porém: aquilo que é investigado pode ser modificado por essa investigação; também pode modificar essa investigação; e, especialmente, pode se comportar de acordo com os processos formais de investigação, seja por conta própria, ou coletivamente, ou ao longo de sua própria história evolutiva. Alguns biossemióticos contemporâneos têm se perguntado se os processos evolutivos podem ser mais bem compreendidos em termos de processos de solução de problemas do que de processos darwinianos. Outros há muito consideram que o que distingue a vida da não-vida é a semiose. Ao mesmo tempo, a dualidade tradicional entre a vida e a não-vida tem se tornado cada vez mais embaçada: quanto mais perto se chega da raiz da distinção, mais nebulosa ela se torna. Existem razões muito sólidas para afirmar que Peirce pensava que a semiose antecedeu a vida como tradicionalmente é entendido. Ele tinha um argumento sobre a origem do universo que era totalmente lógico e semiótico. Alguns cientistas teorizaram que a segunda lei da termodinâmica é fundamental para uma compreensão adequada da semiose em termos peircianos. Outros têm insistido em uma conexão estreita entre os processos de evolução ticásticos, anancásticos e mesmo agapásticos aplicados à semiose e os processos de formação de atratores fractais na teoria do caos. Mais recentemente, tem havido uma literatura crescente e mais séria sobre semiótica quântica. Dado que a definição de uma relação de signo é idêntica à definição geral de investigação, há, portanto, uma necessidade de mergulhar na metafísica da investigação e estimular sua ligação com a metafísica da evolução. Este artigo tem como objetivo investigar a conexão entre processos inferenciais e semióticos de investigação e processos de evolução de acordo com o espírito peirciano.

[Versão para o português de Renan Baggio | PUC-SP, Brasil e Tobias Faria | PUC-SP, Brasil]



SESSÃO DE CONFERÊNCIAS 3



10/11/2021 - Quarta-feira

14h - 16h15 |  Horário de Brasília


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Michael L. Raposa  | Lehigh University, USA   

Reflexões adicionais sobre o escotismo de Peirce     


A maior parte da literatura acadêmica dedicada a uma análise comparativa do pensamento de Charles Peirce e Duns Scotus se concentrou no endosso de Peirce de um realismo escolástico "extremo" ligado explicitamente às deliberações medievais de Scotus. De fato, meus primeiros estudos sobre Peirce se concentraram em sua crítica aguda ao nominalismo e na defesa de um realismo metafísico robusto. Mais recentemente, no entanto, minha atenção mudou para outros possíveis pontos de contato entre esses dois pensadores, por exemplo, ao ligar o pragmaticismo defendido por Peirce em Um argumento negligenciado para a realidade de Deus com a descrição de Scotus da teologia como uma ciência prática, ou compreender a descrição de Peirce da semiose dentro da estrutura fornecida pela concepção de Scotus de causas essencialmente ordenadas. Neste artigo, proponho revisar todas essas conexões entre Peirce e Scotus, enquanto também sugiro outras possibilidades. Meu objetivo não é tanto demonstrar a influência tangível de Scotus em Peirce em todos os casos, mas ilustrar como o pensamento de Peirce ressoa com o de seu notável predecessor medieval. Consequentemente, estou menos preocupado com uma comparação direta de Peirce e Scotus do que com a avaliação do scotismo de Peirce, sua reformulação criativa e moderna de linhas básicas de pensamento que são tecidas na malha da filosofia e teologia de Scotus.

[Versão para o português de Renan Baggio   PUC-SP, Brasil e Tobias Faria   PUC-SP, Brasil]




Vincent Colapietro  | University of Rhode Island, USA   

Retórica revisitada       


Uma das maneiras mais frutíferas de abordar um autor, especialmente um escritor filosófico, é prestar atenção às tensões não resolvidas em seu corpus literário, concebido de forma abrangente. Tal corpus inclui as cartas do escritor, cadernos, diários e outras miscelâneas "privadas", bem como os textos publicados e rascunhos não publicados dessa pessoa. Raramente essas tensões são simplesmente contradições em qualquer sentido estrito; em vez disso, são frequentemente melhor interpretadas como indicações dos propósitos irredutivelmente complexos que animam o trabalho de um pensador. O conceito peirciano de teleologia desenvolvente apenas aumenta essa complexidade. No caso de C. S. Peirce, a tensão entre, digamos, segurança e uberidade (ou fecundidade) ilustra meu ponto. O mesmo ocorre entre a visão abrangente da retórica especulativa esboçada em Ideias, perdidas ou roubadas, sobre a escrita científica (1904) e a concepção de Peirce aparentemente mais estreita de metodêutica. Nesta ocasião, então, quero defender uma abordagem específica para a interpretação filosófica em que as tensões não resolvidas são de importância insuperável. Eu quero fazer isso especificamente em referência ao terceiro ramo da semiótica de Peirce, diversamente identificado como retórica especulativa, retórica geral, metodêutica e outros. Qualquer que seja o nome, esse é, no julgamento de Peirce, "o ramo mais elevado e vivo da lógica", pois é a arena de investigação na qual a vida dos signos é mais manifesta. Minha expectativa é, em certo nível, iluminar o caráter mais íntimo do projeto filosófico de Peirce e, em outro, defender uma abordagem hermenêutica distinta para os textos filosóficos. Ao fazê-lo, questões a espeito da retórica da filosofia, especialmente em relação à retórica da ciência, devem ser levantadas e, na medida do possível, dentro dos limites de tal artigo, abordadas. Em particular, os esforços declarados de Peirce para modelar a retórica filosófica na retórica científica precisam ser lidos à luz de suas práticas reais como autor filosófico. O que é difícil, senão impossível, para um autor discernir pode se tornar evidente para aqueles leitores em cujas psiques as palavras do autor criam raízes e crescem. Peirce de fato insiste, “é muito mais verdadeiro dizer que os pensamentos de um escritor vivo estão em qualquer cópia impressa de seu livro do que em seu cérebro” (CP, 7.364). É ainda mais verdadeiro dizer que as ideias do autor estão na interpretação do leitor dessas ideias do que nos tokens estáticos que compõem o texto impresso. Uma compreensão diferenciada da intencionalidade humana, entretanto, é necessária para dar sentido a como os autores podem ter objetivos contrários a si próprios e como seus objetivos podem ser conjugados aos de seus leitores. Aqui, como em outros contextos, observamos ele mesmo dividido contra si mesmo e, ao mesmo tempo, aliado de outros. Uma abordagem de textos sintonizados com essas facetas importantes da ação humana promete ser mais frutífera do que outra fixada na consistência formal e na genialidade singular. Identificar tensões não resolvidas e solidariedades não reconhecidas deve ser uma preocupação central para o intérprete responsável. À luz de uma compreensão peirciana da teleologia desenvolvente, nada é mais importante do que a complexidade irredutível dos propósitos em evolução de um autor, incluindo tensões ou conflitos entre esses propósitos. Isso exige que revisitemos a retórica de Peirce, como ele a imaginou formalmente, mas também como ele realmente usou palavras para realizar seus objetivos complexos. O trabalho de uma personalidade finita e falível, no papel de autor não menos do que em outros empreendimentos, é, em parte, o de autoesclarecimento, um processo de chegar a compreender mais claramente os propósitos que animam os esforços de alguém e sua relação com os outros. Paradoxalmente, os leitores auxiliam o autor nesse processo, mesmo quando o autor não está mais vivo. De fato, a vida de um escritor historicamente significativo como C. S. Peirce é mais evidente em como as palavras desse autor são tomadas e levadas adiante por várias comunidades interpretativas.

[Versão para o português de Renan Baggio | PUC-SP, Brasil e Tobias Faria | PUC-SP, Brasil]



SESSÃO DE CONFERÊNCIAS 4


11/11/2021 - Quinta-feira

14h - 15h |  Horário de Brasília


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Roberto Pich |  PUC-RS, Brasil   

Filosofia do senso comum e conhecimento: uma revisita à rejeição do ceticismo, por Thomas Reid, e a sua recepção na história da filosofia


A epistemologia de Thomas Reid (1710-1796) tem como base uma noção de “senso comum” ou, lato sensu, de racionalidade humana. Essa noção condiciona a sua teoria da evidência, a sua teoria de princípios do conhecimento, o seu falibilismo epistêmico e a sua peculiar resposta ao cético radical no tocante ao problema do conhecimento do mundo exterior. Com Reid, inaugura-se uma estratégia de resposta ao ceticismo epistemológico que apela à insuficiência de razoabilidade na dúvida cética. Após explicitar o cerne dessa estratégia, quer-se apontar ao modo como a epistemlogia do senso comum de Reid sobrevive, explicatamente ou veladamente, em epistemologias que acabam por acusar o ceticismo da mesma insuficiência. Nesse caso, percorre-se o caminho de elementos da epistemologia de Reid em Charles Sanders Peirce (1839-1914), Ludwig Wittgenstein (1889-1951), Peter Frederick Strawson (1919-2006) e Alvin Plantinga (1932-). No cerne da exposição, uma tese comum: a fraqueza do ceticismo não consiste em mostrar que há como falsificar as suas hipóteses céticas, mas antes em mostrar como a atitude cética é ao final ou irrazoável ou mesmo inconsistente.


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